ADMIRÁVEL MUNDO NOVO
A volta à labuta depois de meses de home office ou férias não requeridas, demostrou que o novo sempre vem, e nada está sendo como antes costumava ser.
As mudanças são sutis, mas que a tecnologia teve um impulso, na substituição da mão de obra, ninguém há de negar.
A defesa da semana trabalhada ‘de quatro dias’, pelo Ministro do Trabalho do governo do Partido dos Trabalhadores é a prova maior que o admirável mundo novo já chegou.
Com pelo menos 500 anos de antecipação às previsões de Huxley, já estamos vivendo sob novas regras.
E o que era obra de ficção ou motivo de chacota há não muito tempo, é prática corrente.
Na hora de trabalhar, pernas pro ar que ninguém é de ferro, plástico, resina. Nem de cristal.
As maravilhas mecânicas já fazem quase tudo.
As eletrônicas, o resto.
Não precisa ser versado em tecnologia do futuro para saber que algumas atividades não terão sobrevida longa.
Na portaria do prédio já não se ouve o bom-dia do Seu Silva.
A simpática porteira remota, com voz aveludada de locutora de aeroporto, faz a leitura facial e com delicadeza, deixa o visitante (previamente cadastrado) entrar.
Quem ainda imagina que um bioquímico utiliza pistilos, almofarizes, cadinhos, buretas, pipetas e aquece as substâncias com bico de Bunsen, precisa conhecer as competências dos analisadores digitais.
E não são profissionais com quadradinho no organograma, direitos trabalhistas nem mesmo, pessoas de carne e osso.
Máquinas que a cada nova geração vão se tornando mais autônomas, com menos erros, controles, ajustes e calibrações.
E interferência humana.
De fabricação tupiniquim, um aparelho portátil, do tamanho de um liquidificador, é capaz de ler, em minutos, todas as informações médicas relevantes em um exame biológico (de sangue, fezes, urina ou saliva).
O próprio médico pode ter o aparelho e com apenas uma gotinha de sangue, realizar a leitura dos exames no momento da consulta.
Com precisão, realiza boa parte dos testes laboratoriais sem a necessidade de encaminhar o paciente a um laboratório.
O resto pode ser feito na PagueMenos da esquina, confirmando, na hora da conta, o nome da drugstore cearense.
Plano de saúde restringem suas agências de atendimento presencial. Os mesmos serviços, sem burocracia, filas, humores nem esperas, continuam sendo prestados ao alcance de qualquer smartphone.
De onde?
Quem lá precisa saber disso…
Ao terminar o procedimento cirúrgico o médico no seu laptop, faz sozinho, o trabalho que uma meia dúzia de burocratas costumavam levar dias.
Para processar a conta, verificar carimbos, códigos, vistos e glosas. Que depois subia (ou descia) para ser auditada por outro médico.
Antes da revisão final.
Ao enviar o arquivo, o doutor sabe quando e quanto, com precisão de centavos, vai receber de honorários.
Até os nazifascistas e mau-caracteres agropecuaristas com uma simples foto tirada em um celular e um aplicativo húngaro, dispõem de balança invisível, para pesar a boiada.
Fora do brete.
Mas isso vem de longe.
O tio com fama de boa vida, em meados do século passado, aproveitava a topografia da propriedade para fazer o que os vizinhos penavam em lombo de cavalo, sob o sol inclemente.
Aprendeu a usar a mais moderna tecnologia alemã da época.
Com um par de binóculos Zeiss, contava o rebanho em uma vista d’olhos. No conforto do alpendre, à sombra.
Levou fama de preguiçoso.
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Umberto Boccioni é talvez, o mais conhecido pintor e escultor do movimento futurista italiano
(Este texto trata de variações sobre um mesmo tema, abordado aqui desde 08/10/2019)