1 de maio de 2024
Comportamento

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Volumes horizontais (1912) – Umberto Boccione – coleção particular


A volta à labuta depois de meses de
home office ou férias não requeridas, demostrou que o novo sempre vem, e nada está sendo como antes costumava ser.

As mudanças são sutis, mas que a tecnologia  teve um impulso, na substituição da mão de obra, ninguém há de negar.

A defesa da semana trabalhada ‘de quatro dias’, pelo Ministro do Trabalho do governo do Partido dos Trabalhadores é a prova maior que o admirável mundo novo já chegou.

Com pelo menos 500 anos de antecipação às previsões de Huxley, já estamos vivendo sob novas regras.

E o que era obra de ficção ou motivo de chacota há não muito tempo, é prática corrente.

Na hora de trabalhar, pernas pro ar que ninguém é de ferro, plástico, resina. Nem de  cristal.

As maravilhas  mecânicas já fazem quase tudo.
As eletrônicas, o resto.

Não precisa ser versado em tecnologia do futuro para saber que algumas atividades não terão sobrevida longa.

Na portaria do prédio já não se ouve o bom-dia do Seu Silva.

A simpática porteira remota, com voz aveludada de locutora de aeroporto, faz a leitura facial e com delicadeza, deixa o visitante (previamente cadastrado) entrar.

Quem ainda imagina que um bioquímico utiliza pistilos, almofarizes, cadinhos, buretas, pipetas e aquece as substâncias com bico de Bunsen, precisa conhecer as  competências dos analisadores digitais.

E não são profissionais com quadradinho no organograma, direitos trabalhistas nem mesmo, pessoas de carne e osso.

Máquinas que a cada nova geração vão se tornando mais autônomas, com  menos erros, controles, ajustes e calibrações.

E interferência humana.

De fabricação tupiniquim, um aparelho portátil, do tamanho de um liquidificador, é capaz de ler, em minutos, todas as informações médicas relevantes em um exame biológico (de sangue, fezes, urina ou saliva).

O próprio médico pode ter o aparelho e com apenas  uma gotinha de sangue, realizar a leitura dos exames no momento da consulta.

Com precisão, realiza boa parte dos testes laboratoriais sem a necessidade de encaminhar o paciente a um laboratório.

O resto pode ser feito na PagueMenos da esquina, confirmando, na hora da conta, o nome da drugstore  cearense.

Plano de saúde restringem  suas agências de atendimento presencial. Os mesmos serviços, sem burocracia, filas, humores nem esperas,  continuam sendo prestados ao alcance de qualquer smartphone.

De onde?

Quem lá precisa saber disso…

Ao terminar o procedimento cirúrgico o médico no seu laptop, faz sozinho, o trabalho que uma meia dúzia de burocratas costumavam levar dias.

Para processar a conta, verificar carimbos, códigos, vistos e glosas. Que depois subia (ou descia) para ser auditada por outro médico.

Antes da revisão final.

Ao enviar o arquivo, o doutor sabe quando e quanto, com precisão de centavos, vai receber de honorários.

Até os nazifascistas e mau-caracteres agropecuaristas com uma simples foto tirada em um celular e um aplicativo  húngaro, dispõem de balança invisível, para  pesar a boiada.

Fora do brete.

Mas isso vem de longe.

O tio com fama de boa vida, em meados do século passado, aproveitava a topografia da propriedade para fazer o que os vizinhos penavam  em lombo de cavalo, sob o sol inclemente.

Aprendeu a usar a mais moderna tecnologia alemã da época.

Com um par de binóculos Zeiss, contava o rebanho em uma vista d’olhos. No conforto do alpendre, à sombra.

Levou fama de preguiçoso.

A rua entra na casa (1911) – Umberto Boccione – Museu Sprengel, Hanôver, Alemanha
Ídolo Moderno (1911) – Umberto Boccione – Coleção Estorick da arte italiana moderna, Islington, Londres                

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Umberto Boccioni é talvez, o mais conhecido  pintor e escultor do movimento futurista italiano

(Este texto trata de variações sobre um mesmo tema, abordado aqui  desde 08/10/2019)

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