16 de maio de 2024
Memória

ALÔ, ALÔ PROGRESSO

Escritório à noite (1940) – Edward Hopper – Walker Art Center, Minneapolis, EUA


Alguns indicadores de desenvolvimento não são analisados pelos colunistas econômicos.

Sem nunca ter sido levada em consideração para o cálculo do IDH dos municípios, a novidade nos ônibus que iam pro sul movimentava a cidade.

Outro passo rumo ao futuro  levou mais de cem anos, desde o alô que o Segundo Pedro deu a Graham Bell, na exposição de Filadélfia em 1876 e a chegada do telefone à mais avançada e tecnológica cidade do agreste potiguar.

Eram tão poucas as linhas que bastava uma combinação de dois números.                                       

A lista não ocupava por inteiro, uma página mimeografada.

Com área de cobertura da praça da prefeitura, rua grande  até o entorno da matriz, bastavam incríveis 29 aparelhos instalados.

Com poucas opções de lazer, era comum ao se encontrar um amigo pela rua, pedir que fossem cada um pra suas casas. Para se falarem ao telefone.

Bons tempos.

Não se corria o risco de ter a conversa grampeada por hackers. Nem pelo guardião.

Muito mais fácil, desvendar os trotes, por exclusão dos suspeitos.

Os armazéns foram os primeiros a utilizar a nova ferramenta, juntando as facilidades das compras on line com os registros em  cadernetas de fiado.

Os mais abertos às inovações agregavam o valor do delivery service, garantido pelos cabeceiros, os precursores dos motoboys.

Na gigante do transporte de passageiros  na rota Nova Cruz-Rio-São Paulo, as vendas continuaram exclusivamente presenciais. Turbinadas pelo telemarketing receptivo.

No tempo em que a qualidade das estradas não podia garantir o cumprimento dos horários, estavam por um fio, as previsões de chegadas e partidas das modernas rodonaves.

Instalado na rua grande, o escritório da Viação Planalto passou a ter um dos números mais conhecidos. Tal o 192 dos samus contemporâneos.

Tudo porque descobriram que  Dona Maria,  gerente e filial afetiva do agente Severino Pau de Arara, ficava uma psitacídea quando algum gaiato ligava perguntando detalhes da maior novidade, amplamente propagada, dos novos ônibus.                                         

Os únicos com toilette.

Só pra ouvir (junto com a torcida do São Sebastião e quem passasse pela calçada) os impropérios que a paraibana de Campina Grande vociferava ao responder ao pedido de confirmação.

Se era  verdade que os novos carros tinham mesmo cagador a bordo.

Sala em Nova Iorque (1932) – Edward Hopper- Museu de Arte Sheldon, Universidade de Nebraska, EUA

            (Publicação original em 26/08/2019)

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