AMANHÃ, MALUFADAS
Quando se fala em controle da mídia e se condena, sem julgamento, quem se manifesta contra as verdades aceitas, um episódio merece ser relembrado.
Há 25 anos, no seu segundo mandato de prefeito da maior cidade do país, Paulo Maluf – que aos 91 anos cumpre prisão domiciliar – foi entrevistado no programa Roda Viva da TV Cultura.
No centro do estúdio-anfiteatro-picadeiro, o réu (e advogado) defendeu-se da acusação de ter decretado um ato de extrema violência contra a auto-determinação dos cidadãos de bem, pagadores de impostos.
A proibição de fumar em restaurantes e bares era tema altamente inflamável.
Mesmo que a medida permitisse o vício em salões e espaços reservados.
Depois que a liberdade abriu as asas sobre a nação amordaçada por 21 anos, só uma lei, não promulgada, era aceita e seguida por todos.
Era proibido proibir.
Foram precisos mais dois anos para o Departamento de Aviação Civil baixar portaria banindo cachimbos, charutos e cigarrilhas dos voos domésticos.
Mas só na primeira hora da viagem.
De Arapiraca pra baixo, o fumo era livre e a densa fumaça, nervosa.
A obrigatoriedade dos cintos de segurança levou outros cinco anos para virar norma nacional.
E os passageiros do banco de trás ainda ficaram um tempão livres das amarras.
Ninguém poderia deixar de fazer o que quisesse, mesmo que prejudicasse os outros.
Ou o politicamente correto não existia, ou o STF ainda não havia medido sua força.
O debate faz pensar nos vários temas defendidos hoje pelos formadores de opinião, co-proprietários das certezas absolutas, e paladinos da maltrapilha democracia.
E se os vilões de agora, fora da caixinha cheia de comprovações científicas, estiverem certos?
Nossos netos saberão.
E darão boas risadas.
(Texto publicado em 08/12/2022)