2 de maio de 2024
Política

APOCALIPSE ANUNCIADO

O Martírio de São Maurício (1582)- El Greco – Mosteiro de El Escorial, Madri, Espanha


Na fase mais cruel da pandemia, não se esperava notícia mais bombástica.

Ninguém ficaria fora da próxima eleição.

A lembrança da profecia do  Armagedom deslocou a manchete do número recordes de mortes em um único dia, para os cantos de página de todos os jornais.

Mesmo se tivessem acontecido as quedas de sete aviões lotados de passageiros (o que vinha somando, diariamente, há duas semanas), o anúncio da decisão judicial não deixaria de causar o mesmo impacto.

A canetada do sacerdote supremo prevaleceu às de todos os  outros doutores das leis, como sinal que o maior de todos os embates estava prestes a acontecer.

A bomba estourou nas redes sociais operando o milagre da divisão instantânea das águas turvas e tumultuadas.

As batalhas seriam travadas sem intermediários, sem postes, e sem postos de combustíveis.

Famílias que ainda choravam as perdas dos mais queridos, revivendo as mesmas cismas de três anos atrás.

Para manter as posições, o regente da vez contava com o apoio dos gentios e no fascínio que as moedas dos auxílios emergenciais exercem sobre eles.

Como desafiante, o general que mais havia disputado torneios eleitorais, voltava com o apoio do fiel exército sobrevivente às mais agourentas previsões dos cientistas políticos.

Os sinais estavam escritos no livro do Apocalipse:

Cairá do céu uma grande estrela, ardendo como uma tocha.
O diabo não é fácil de ser batido e conseguirá se libertar e voltar para a batalha final”.

Do outro lado, “personagens igualmente assustadores, como quatro cavaleiros espalhando fome, guerras e peste.”

Estudiosos das antigas escrituras desvendaram  os mistérios.

Uma besta-fera,  acompanhada dos seus três garotos, espalhando discórdia e fakenews.

E de um falso Brahma, aquele que dizia ter tudo criado e que nada havia antes dele.

Apesar das súplicas e orações de um aprendiz de cronista e feiticeiro, os orixás nada fizeram para  salvar o Brasil da mesmice.

 

O Quinto Selo do Apocalipse (1614) – El Greco – MoMa, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque

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