APOCALIPSE AQUI E AGORA
A devastação chegou também aos mais recônditos rincões do planeta.
O que parecia um mal saído da miséria e ignorância para atingir somente os bem de vida, viajantes e moradores das metrópoles, alcançou as periferias mais pobres, as comunidades e agora toma o caminho da roça.
Como qualquer outra moda saída dos centros produtores do oriente que passa pelas catedrais do consumo, acaba alcançando todo vilarejo, por mais esquecido seja.
A aldeia global de McLuhan também é aqui.
(Publicação original em 03/07/2019)
CRIME NA CAATINGA
Vilas e cidadezinhas bucólicas, do tempo dos nossos avós, são só lembranças. Fotos esmaecidas nos álbuns quase esquecidos. Em qualquer lugar, por mais remoto e tranquilo que possa parecer, o crime já está instalado. Com frequência, variedade e constância.
Não se fazem mais ladrões de galinhas como antigamente.
Antes, seguindo o rastro dos caminhões trucados, vieram a prostituição infantojuvenil e as drogas.
Depois, pelas veredas e estradas de terra-batida, menos a lombo de cavalo e mais em motocicletas de muitas cilindradas, outros malfeitos chegam aos rincões e pés de serra.
Novas relações trabalhistas e programas de transferência de renda, esvaziaram as propriedades rurais e incham, não só as grandes mas também as periferias das pequenas cidades.
As coréias, vietnams, leningrados, sopapos, malvinas, rabos das gatas são as novas fronteiras de tudo quanto é lugar. Ao deus-dará e à pouca sorte.
Aos jovens com limitadas instrução, renda e perspectivas, resta o ócio. O pai de todos os vícios.
E maior empregador.
Não se conversa mais só sobre a vida campestre, as variações do clima, o bonito pra chover, plantio, colheita e festas dos santos. Também, notícias de assaltos, medos, invasões, roubos, tiroteios, explosões de bancos e agências dos correios.
Como a vida ficou complicada!
E perigosa.
Os novos cangaços, do asfalto e do piçarro, transferiram a audiência do Globo Rural para turbinar o Ibope do Papinha.
A inoperância da força policial – desaparelhada e insuficiente – é convite, gravado em letras douradas, para a talionato e a formação de milícias.
A troca de um crime por outro aparece como única e esperada solução.
Fundada na trinca, salve-se como puder, auto-defesa e a culpa é da vítima.
Recente caso de duplo estupro em estradinha carroçavel que conduz a pequenos sítios, desnuda o sentimento de impotência e conformismo que tem prevalecido:
-É nisso que dá.
Uma moto. Duas moças. Outra moto. Dois rapazes. Um trabuco. Shortinhos na moda. O meio do nada. Dois soldados e nenhum cabo.
No cenário da caatinga, o Dragão da Maldade já está preparado para o Amargedom .
Será batalha de morte.
Só o Santo Guerreiro pode nos salvar.