3 de maio de 2024
Coronavírus

APOCALIPSE AQUI E AGORA

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Candido Portinari – Retirantes (1944)


A devastação chegou também aos mais recônditos rincões do planeta.

O que parecia um mal saído da miséria e ignorância para atingir somente os bem de vida, viajantes e moradores das metrópoles, alcançou as periferias mais pobres, as comunidades e agora toma o caminho da roça.

Como qualquer outra moda saída dos centros produtores do oriente que passa pelas catedrais do consumo, acaba alcançando todo vilarejo,  por mais esquecido seja.

A aldeia global de McLuhan também é aqui.


(Publicação original em 03/07/2019)

CRIME NA CAATINGA

Vilas e cidadezinhas bucólicas, do tempo dos nossos avós, são só lembranças.  Fotos esmaecidas nos álbuns quase esquecidos. Em qualquer lugar, por mais remoto e tranquilo que possa parecer, o crime já está instalado.  Com frequência, variedade e constância.

Não se fazem mais ladrões de galinhas como antigamente.

Antes, seguindo o  rastro dos caminhões trucados, vieram a prostituição infantojuvenil e as drogas.

Depois, pelas veredas e estradas de terra-batida, menos a lombo de cavalo e mais em motocicletas de muitas cilindradas, outros malfeitos chegam aos rincões e pés de serra.

Novas relações trabalhistas e programas de transferência de renda, esvaziaram as propriedades rurais e incham, não só as grandes mas também as  periferias das pequenas cidades.

As coréias, vietnams, leningrados, sopapos, malvinas, rabos das gatas são as novas fronteiras de  tudo quanto é lugar. Ao deus-dará e à pouca sorte.

Aos jovens com limitadas instrução, renda e perspectivas, resta o ócio. O pai de todos os vícios.

E maior empregador.

Não se  conversa mais só sobre a vida campestre, as variações do clima, o bonito pra chover, plantio, colheita e festas dos santos. Também, notícias de assaltos, medos, invasões, roubos, tiroteios, explosões de bancos e agências dos correios.

Como a vida ficou complicada!

E perigosa.

Os novos cangaços, do asfalto e do piçarro,  transferiram  a audiência do Globo Rural para turbinar o Ibope do Papinha.

A inoperância da força policial – desaparelhada e insuficiente – é convite, gravado em letras douradas, para a talionato e a formação de milícias.

A troca de um crime por outro aparece como única e esperada solução.

Fundada na trinca, salve-se  como puder, auto-defesa e a culpa é da vítima.

Recente caso de duplo estupro em  estradinha  carroçavel que conduz a pequenos sítios, desnuda o sentimento de impotência e conformismo que tem prevalecido:

-É nisso que dá.

Uma moto. Duas moças. Outra moto. Dois rapazes. Um trabuco. Shortinhos na moda. O meio do nada. Dois soldados e nenhum cabo.

No cenário da caatinga, o Dragão da Maldade já está preparado para o Amargedom .

Será batalha de morte.

Só o Santo Guerreiro pode nos salvar.

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