28 de abril de 2024
Familia

AS NOVAS FÉRIAS DO TIRANO

Paisagem da Cordilheira (1901) – Alberto Valenzuela Llanos – Museu Nacional de Belas Artes, Santiago, Chile


Na modernidade, pedagogos e psicólogos sociais têm se dedicado a assunto tão arcaico como as relações pais e filhos.

Que parecem as de sempre, renovadas, geração a geração, mas que não consideram tão iguais assim.

Afirmam que o rei e a rainha abdicaram  dos seus tronos e agora são outros, os novos regentes do lar.

Suas majestades as crianças.

Em número cada vez menor, tendendo ao modelo chinês, do filho único, é fácil saber  porque.

Uma pesquisa rápida e a  respeitável cifra de dois milhões de reais.

É quanto um casal deverá gastar (ou investir) nas despesas de um recém-nascido, até que atinja os 23 anos, idade fixada  para o corte definitivo do cordão umbilical.

Isso se não emendarem logo na turma da geração canguru, e permaneçam debaixo das asas dos pais per omnia saecula saeculoren.

No regime de governo da pedocracia,  superproteção é a incubadora, a negação do não, o nestogeno a nutrir os pequenos

Em famílias mais conservadoras, o poder permanece onde e com quem  sempre esteve, a bem da verdade, um pouco mais aberto, democrático e compartilhado.

Os putos (só para nossos três leitores no Funchal) ocuparam seus espaços e se fazem ouvir sem medos.

Casal de médicos, família convencional (pai homem, mãe mulher e filhos de gêneros congênitos).

Provedores bem  ocupados e tendo de manter atualização nas especialidades, viajam com frequência para congressos e similares.

A notícia de mais uma ausência disparou no filho de cinco anos, interrogatório digno de uma tropa de choque de CPI.

– Já vão tirar férias de novo?   

Para mais longe, a excursão seria, daquela vez, mais demorada.

A explicação do motivo e a  necessidade de distância da vida atribulada que levavam, não acabou em  acordo entre as partes.

Como um parlamentar do centrão que votou a favor da reforma trabalhista, o miúdo apresentou seu projeto de lei:

– Descansem no fim de semana.

 

Ponte da Charenton (1903) – Alberto Valenzuela Llanos – Museu Nacional de Belas Artes,Santiago, Chile

***
(O pequeno tirano desta estória,  contada há 4 anos, já pode se considerar um vencedor.                            
As próximas férias dos pais, no inverno chileno, inclui os filhos)

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