AS NOVAS FÉRIAS DO TIRANO
Na modernidade, pedagogos e psicólogos sociais têm se dedicado a assunto tão arcaico como as relações pais e filhos.
Que parecem as de sempre, renovadas, geração a geração, mas que não consideram tão iguais assim.
Afirmam que o rei e a rainha abdicaram dos seus tronos e agora são outros, os novos regentes do lar.
Suas majestades as crianças.
Em número cada vez menor, tendendo ao modelo chinês, do filho único, é fácil saber porque.
Uma pesquisa rápida e a respeitável cifra de dois milhões de reais.
É quanto um casal deverá gastar (ou investir) nas despesas de um recém-nascido, até que atinja os 23 anos, idade fixada para o corte definitivo do cordão umbilical.
Isso se não emendarem logo na turma da geração canguru, e permaneçam debaixo das asas dos pais per omnia saecula saeculoren.
No regime de governo da pedocracia, superproteção é a incubadora, a negação do não, o nestogeno a nutrir os pequenos
Em famílias mais conservadoras, o poder permanece onde e com quem sempre esteve, a bem da verdade, um pouco mais aberto, democrático e compartilhado.
Os putos (só para nossos três leitores no Funchal) ocuparam seus espaços e se fazem ouvir sem medos.
Casal de médicos, família convencional (pai homem, mãe mulher e filhos de gêneros congênitos).
Provedores bem ocupados e tendo de manter atualização nas especialidades, viajam com frequência para congressos e similares.
A notícia de mais uma ausência disparou no filho de cinco anos, interrogatório digno de uma tropa de choque de CPI.
– Já vão tirar férias de novo?
Para mais longe, a excursão seria, daquela vez, mais demorada.
A explicação do motivo e a necessidade de distância da vida atribulada que levavam, não acabou em acordo entre as partes.
Como um parlamentar do centrão que votou a favor da reforma trabalhista, o miúdo apresentou seu projeto de lei:
– Descansem no fim de semana.
***
(O pequeno tirano desta estória, contada há 4 anos, já pode se considerar um vencedor. As próximas férias dos pais, no inverno chileno, inclui os filhos)