AS NOVAS VELHINHAS
Seu desaparecimento completa 15 anos.
Encantou-se aos 90 de idade, por graça de Luís Fernando Veríssimo.
Morte natural, em frente à TV, atribuída à decepção fulminante, ao assistir notícias de escândalos políticos envolvendo pessoas da sua inteira confiança.
Getulista, sempre acreditou no ídolo gaúcho e em todos os governantes da hora. E que os malfeitos denunciados pela vigilante e vestal oposição eram esquecidos depois da eleição.
Guardava comovente admiração pelo último presidente-ditador. Aquele que não prendeu nem arrebentou ninguém.
Manteve um recorde jamais alcançado. A última pessoa a acreditar no governo. Só não resistiu à enchente da maré vermelha.
Agora que seu espírito voltou a pairar nos mesmos planaltos, já se pode iniciar uma nova contagem regressiva, para ao final, quem restou, receber as honras de sucedê-la.
A disputa é por processo eliminatório. Que corre rápido. Há 20 meses, eram 52% da população, os vitoriosos.
Já no período probatório, entre peraltices dos garotos, caneladas e dos pernas de pau escalados, os poucos craques do time ainda conseguiam manter a fiel torcida em 30%.
Com o caos instalado no departamento médico, todas as reservas gastas em hospitais infláveis, equipamentos que não funcionam e testes falsificados, os números que não podem ser escondidos, mostram a queda livre da curva passando dos 15%.
Os recalcitrantes juram e prometem uma segunda chance, caso a próxima finalíssima seja contra o mesmo adversário de antes.
São os que não admitem ter comprado fanta por coca.
Esquecendo o passado e lembrando da memória curta, a boa-fé é a última esperança de salvação para o rebanho que míngua às vistas grossas.
Há quem creia que 30 anos de parlamento, somados aos tantos dos filhotes, confira imunidade às transgressões denunciadas por eles mesmos e feitas por todos. Pecados veniais a serem perdoados em pequenas indulgências.
Acreditam que é só uma gripezinha.
Que a China é comunista.
A terra plana.
E Trump vai nos ajudar.
Que Weintraub foi o melhor ministro da Educassão.
E Mandetta saiu porque queria ser artista de televisão.
Que Moro foi plantação dos tucanos. Para bicar por dentro.
E o posto ipiranga resolve tudo. E não cansa.
Que o despreparo confesso é ficção.
Ou intriga da oposição.
E o livro aberto da vida é para ser lido com as páginas grudadas.
Que elas podem conter cenas de decepção explícita.
São ainda muitas, as novas Velhinhas de Taubaté.