9 de maio de 2024
Nota

“Biografia do Abismo” mostra que polarização Lula X Bolsonaro não terminou com eleição

Não terminou a ponto de interferir na reação de um familiar ao saber que um membro da família vai se casar com alguém simpatizante do viés politico-ideológico oposto a suas convicções.

E isso não é apenas opinião, mas pesquisa que trata o livro “Biografia do Abismo”, de Felipe Nunes e Thomas Trauman lançado nesta segunda-feira, 4.

Não existe mais o Brasil, existe o “Lulanaro”, dois universos completamente diferentes, um dos adeptos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outro do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Estar em uma esfera ou outra significa escolhas diferentes de estética, educação, consumo, lazer e até sentimentais e familiares. A divisão ultrapassou o cenário político e invadiu o cotidiano.

O nome do livro é uma alusão a uma frase famosa do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que alertou sobre o risco da radicalização:

“Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne também um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo olha de volta para você”.

O livro é um estudo sobre as eleições de 2022, “uma história de ódio, amores e medos”, como os autores as definem. Não se limita a isso, entretanto. Na autópsia da disputa do ano passado, o principal traço é o aprofundamento de uma divisão já existente e que persistiu depois do pleito, como ficou evidente depois dos atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília.

MINORIA QUE DEFINIU A ELEIÇÃO NÃO FOI O NORDESTE, MAS …

Outra conclusão é que paradoxalmente a calcificação torna as eleições ainda mais imprevisíveis. Como as duas bolhas são aproximadamente do mesmo tamanho, mesmo grupos muito minoritários podem se tornar decisivos, porque oscilam entre um grupo e outro.

É o caso do que eles denominam de “liberais sociais”, equivalente em 2022 aos eleitores da hoje ministra do Planejamento Simone Tebet (MDB), que teve apenas 3% dos votos. Não foi o Nordeste, reduto lulista, que decidiu a eleição. O que a decidiu foi a captura por Lula de uma franja do eleitorado do Sudeste, reduto de Bolsonaro.

O ABISMO TEM JEITO?

O último capítulo busca ser propositivo diante do cenário sombrio. “Tem saída?”, os autores perguntam no título do epílogo. A resposta que eles dão é sim, e convidam os leitores a partirem da premissa que tanto o bolsonarismo quanto o lulismo “ são respostas políticas para problemas reais”. Portanto legítimas.

A partir dessa premissa, os autores propõem que se adote uma espécie de “convenção de Genebra” em relação à disputa política.

Ou seja, impor “limites claros de até onde vai a opinião pública e onde começa a intolerância”. Não respondem como isso será possível.

Fonte: Valor 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *