CALOURO DE ALTA PATENTE
O odômetro marcando quase 80 e o sonho renovado de reingresso na universidade não esmorece.
O curso ainda a ser escolhido depois que nesses tempos de Enem tem vaga para tudo que é nota e graduação.
Historiador, sem ainda ter contado a própria – rica e eletrizante – enche o tempo que sobra das atenções aos netos, em missas e idas diárias ao mesmo supermercado, com cursos de pós-graduação.
As boas línguas dizem que depois de longa viuvez, reencontrou o amor juvenil.
Segredo ainda guardado no bauzinho da família.
No momento, anda empolgado com estudos africanos e tem se dedicado à pesquisa da influência da cultura negra no teatro brasileiro.
Encontrou em Abdias do Nascimento, o exemplo de vida e inspiração para continuar na luta.
O ativista dos direitos dos povos negros, jornalista, escritor, ator, teatrólogo, artista plástico, professor universitário que virou político (no socialismo moreno de Brizola foi Deputado Federal e Senador pelo Rio de Janeiro), falecido em 2011 aos 97 anos, é seu modelo.
Para ter ingressado nas faculdades de Direito, Administração, Ciências Econômicas, História e Turismo, atribui o sucesso à tranquilidade que leva, junto com a caneta preta, para as provas.
Sem nenhum preparo especial, responde com o conhecimento fundado na Arcádia Natalense, acumulado ao longo do tempo e sedimentado na alegria de viver.
Português, do leitor voraz e redator bissexto.
Inglês de viageiro.
Geografia, de quem muito já andou por Europa, França e Pirpirituba.
História de testemunha ocular e quase personagem.
Ciências do curioso, sempre aprendiz.
Na Matemática, enquanto cair trigonometria, não zera.
Reconhece que a maior dificuldade é a fase de inscrição. Tem sempre que pedir ajuda aos universitários.
Havia programado um treinamento na linguagem DOS mas o tempo voou pra nunca mais voltar para suas janelas coloridas.
Continua fiel à Remington e aos telefones que só ligam, tocam, falam e respondem.
Como qualquer colegial, reconhece que a aproximação da divulgação dos resultados, dá um friozinho na barriga.
E se não der certo desta vez, o Marechal Porpa lembra que todo ano tem vestibular.