COISAS CARIOCAS
Quando a capital foi transferida, ficaram no Rio de Janeiro, representações dos ministérios, muitas repartições e o jeitinho carioca de tratar os bens públicos.
Mais, a legião de funcionários públicos que resolvem por fora, sempre renovada, desde os tempos dos governadores-gerais.
Não poderia haver berço mais embalador para o surgimento de esquemas, mensalões, petrolões, desvios dos ouros da copa e das olimpíadas, rachid’s e tudo o mais que possa encher os bolsos de políticos espertos, empresários audaciosos, juízes venais e executivos globalizados.
O poder de contaminação da cepa carioca do vírus da corrupção impressiona.
Parece parte da estrutura celular de todos.
Até dos outsiders que prometeram a nova política.
Tudo gente fina e bacana.
Que são espertos, nem precisava ser dito pela canção.
Nascem craques.
Sabem, como poucos, botar nomes nas coisas.
Ao batizar o esquema secreto dos partidos, o deputado de nervos de aço escolheu a palavra certa que resumia tudo.
São diretos
Uma bolada, coisa grande, poderosa, repetida.
Explicou depois que não havia periodicidade, mas isso não fez a menor diferença.
Mensalão.
Quando pegou muita gente, o apelido já havia pegado.
Não foi necessário dar os nomes dos bois.
Bastou identificar as boiadas para se ficar sabendo, era todo o rebanho, de poucas novilhas e muitas vacas.
Todas profanas.
A história inteira contada aos poucos, por conterrâneo importado que interceptou o making of e mostrou o outro lado que Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, pensava ser diferente
Dito pelo juiz-caçador, depois caçado, conversas que se tem em círculo de intimidade.
–Quando se fica à vontade para falar besteira, bobagem, e ser até de certo modo, irresponsável.
Refresco na pimenta dos outros.
São sacanas.
Prática comum em todas as casas legislativas desde o Império, o pedágio cobrado aos assessores, ainda carece de consenso jurídico.
Crime, peculato, concussão, para alguns. Outros, improbidade.
Há até quem considere só desvio moral, uma reles negociação entre particulares.
Para quem já nasce bamba, e leva a vida com alegria, uma coisa pequena, escondida, reservada, íntima, para dois, não poderia ter rótulo melhor.
Rachadinha.
Adriana Calcanhoto (1994)
(O tema abordado em 13/09/2019, permanece atual. E o Rio de Janeiro continua sendo. Aquele abraço!)
Johann Moritz Rugendas – Rua Direita (1822)