4 de maio de 2024
Coronavírus

CENAS DE UMA PANDEMIA


Não haverá uma crônica.

Não por falta de assunto ou interesse.         

Por falta de espaço.

Os fatos que se sucedem e se reproduzem em todos os países, haverão de ser contados em séries de muitas temporadas.

Para serem assistidas daqui a muitos anos, pelos confinados em quarentenas futuras. Em ritmo de maratona.

Por obrigação e verossimilhança, começará em um plano geral, na China. No lugar da Grande Muralha ou da Praça da Paz Celestial, os aranha-céus envidraçados, as luzes e as muitas pistas e viadutos de Wuhan.

Um break congelado no mercado, o burburinho das pessoas em compras e close nas barracas que vendem animais vivos. Cobras, lagartos e morcegos. A imagem final do episódio, um pangolim. Que vira sopa.

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Contraste com
Genebra, a calma à beira do lago, os picos nevados dos Alpes ao fundo e a mistura de pessoas,  de todas as raças, em trabalho tranquilo no prédio de linhas modernas da Organização Mundial da Saúde.

Em imagens de gravações reais, o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmando com a convição de categórico sabe-tudo que a virose era sazonal, restrita a uma região da Ásia e sem chances de transmissão interpessoal.

Daí pra frente uma sequência de mapas de países, caindo um após o outro, como cartas de baralho.

Na Itália,  ao norte, nomes de várias cidades e destaque para Milano non se ferma. Movimento frenético de ambulâncias, sons de sirenes, pacientes entrando nos hospitais. Médicos e enfermeiros em atividade incessante.

Corte para uma rua vazia e na janela, um cartaz com letra infantil, Andrà tutto bene.

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Pousos e decolagens em profusão, cenas do cotidiano em
Nova Iorque. Entrevista coletiva nos jardins da Casa Branca, uma pergunta da jovem repórter, sem som, fácil leitura labial e uma das muitas respostas que o Presidente Trump deu sobre uma certa gripezinha. Cabe um carimbo batendo na cena, enchendo a tela: FAKENEWS.

Batucada, repiques de surdos e o ronco da cuíca que vai virando choro.

Carnaval, ruas vestidas de quarta-feira de cinzas, lixo de festa espalhado e o abre e fecha de portas de pronto-socorro. Pessoas aflitas.

Tudo igual à China, Coreia, Irã, Itália, Espanha, França, México, Suécia, Estados Unidos.

Povo nas ruas. Manifestantes de verde, amarelo e preto. Ônibus lotados, camelôs, baile funk.

Na entrada do Alvorada, entrevista tumultuada, pergunta de outra jovem repórter. Tudo igual e repetido.

A diferença na resposta ríspida, com áudio e legenda destorcidas, de palavrão.

O Presidente cumprimenta, toca nas pessoas, posa para selfies. Algumas com máscaras.

Ele não!

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[As cenas dos próximos episódios ainda estão sendo gravadas]

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