CHEZ NOUS
Como seria uma maratona de quarentenas, já na quarta temporada, sem os smartphones e suas consequências.
Na gripe espanhola, o colapso dos meios de comunicação foi completo.
Sobraram para a história, relatos em diários com os dramas dos que se foram e os testemunhos dos afortunados pela sorte, destino e sistema imunológico.
Hoje, um único aparelho, acessível a quase todos, mantém a conexão com o mundo, virou ferramenta de trabalho e contato com familiares e amigos.
É também a porta dos templos e altar de orações.
Sala de velório e modo de envio de flores e solidariedade, sem violação das regras de distanciamento sanitário.
Aliado às melhores práticas de logística, substituem lojas e mercados.
Saudosistas ainda insistem em quebrar as regras estabelecidas mas muito do que hoje é feito por obrigação e necessidade, será no futuro, de bom grado, costume.
Depois de dispensar quase por completo o comparecimento a agências bancárias e correios, passou também a revolucionar o velho hábito de sair para jantar e seus assemelhados.
Os mais inventivos já participam de tele-churrascos.
Cada um na sua varanda gourmet.
Preparam assados, enquanto trocam receitas de carnes no ponto certo e brindam, nas telinhas, o puro malte da preferência individual.
O setor de restaurantes, o que iria sofrer primeiro, foi o que mais rapidamente adaptou-se ao estilo de vida em confinamento.
Pelo menos, os que aliaram os sabores e a qualidade de sempre, a eficientes serviços de entregas em domicílio.
A presteza dos deliveries permitiu até que surgisse uma nova categoria de clientes.
Os ubíquos.
Aqueles que numa mesma mesa familiar, podem estar em duas ou mais casas de pasto. A variedade de pratos vai um pouco além dos cardápios. São de múltiplos temperos e cozinhas.
Até quem não perdeu o vício da ostentação, tem como alimentá-lo.
Ao trocar figurinhas, emojis e indicações de onde ficar para comer, o amigo deu um senhor upgrade na velha e tradicional churrascaria do bairro.
–Tenho solicitado muito, a rôtisserie do Chez Arnold de Mont Blanc.
Este maravilhoso mundo em constante renovação também tem seus subterrâneos.
Vivaldinos não dão férias nem recolhem ao isolamento, suas espertezas e golpes.
É preciso atenção para facilidades exageradas.
Com o home banking e com nossos parlamentares.
Em sessões virtuais, sem o calor das discussões nem o cheiro do povo das galerias, fica muito mais fácil tanger a boiada e passar tudo.
Até camelo por buraco de agulha.
Quanto mais, uma garfada no contracheque do pobre barnabé.