11 de maio de 2024
Opinião

Como Fátima construiu a sua reeleição por WO

Roda Viva – Tribuna do Norte – 05/10/22

Numa eleição que teve os institutos de pesquisa como os grandes derrotados, nossos analistas terminaram sendo os vitoriosos ao constatar, desde o início da campanha propriamente dita, que a eleição para Governador do RN já estava decidida. – Por WO.

WO se refere ao termo “walkover”, que pode ser significar “vitória fácil”, nos jogos de futebol, quando o adversário não aparece.

Quando foram divulgadas as primeiras pesquisas, a governadora Fátima Bezerra ocupava um lugar próprio, o lugar de quem tinha maior visibilidade, saindo em primeiro lugar, num momento em que os seus verdadeiros adversários não haviam aparecido, aliás como não apareceram.

Em agosto do ano passado, a TV Bandeirantes divulgou uma pesquisa com Fátima aparecendo com 32% (“o terço das intenções de votos” padrão  para quem está no governo, segundo os pesquisadores), seguida por Carlos Eduardo (20.7%) e pelo senador Stivenson Valentim (14.9%). Com dois ministros no Governo Bolsonaro (Rogério Marinho e Fábio Faria), que o eleitorado imaginava assumir a Oposição à Fátima (então com o governo mal avaliado), fator que pode ter representado uma grande frustração para o eleitor.

VITÓRIA POLÍTICA

Estudante, vinda da Paraíba, Fátima Bezerra conquistou um lugar na política do RN brigando. Entrou para o Sindicato dos Professores como militante nas manifestações de rua contra o governo, quando o Brasil tinha 30% de inflação (ao mês) e a luta semestral se desenvolvia mensalmente, geralmente com greve. E Fátima estava na frente se tornando conhecida pela sua característica de presença na rua.

Chegou a diretoria do sindicato com carteirinha de radical, que levou para a política partidária, quando ingressou nos quadros do Partido dos Trabalhadores e somou vários mandatos e derrotas nas eleições majoritárias, que amalgamaran sua liderança junto a base.

Nos seus mandatos parlamentares, surpreendeu pela sua convivência amena, que no segundo turno para o Governo do Estado, em 2018, conquistou apoios que seu adversário, Carlos Eduardo, imaginou ter por gravidade, em razão do perfil ideológico da adversária tida como radical.

Fátima construiu sua vitória atraindo os deputados estaduais eleitos, esnobados por Carlos Eduardo, e que ela foi buscar para comandar uma virada (Carlos Eduardo teve mais votos do que ela no primeiro turno).

POLÍTICA NO GOVERNO

Chegando ao Governo, Fátima Bezerra, escolheu o Presidente da Assembleia, Ezequiel Ferreira de Souza, como o seu parceiro preferencial, e entregou-lhe a liderança informal da bancada da maioria. Os assuntos do governo com o legislativo eram decididos pelos dois.

Isso porque, os deputados que viabilizaram sua vitória no Segundo Turno de 2018, tiveram tratamento 5 estrelas, pra deputado governista nenhum botar defeito.

Essa é uma boa explicação para o fato de Fátima ter tido um governo sem oposição. Nunca deputados tidos como “de oposição” haviam sido tão bem tratados pelo governo, na história do RN.

A Assembleia não, apenas, esteve calada sem nenhuma crítica ao governo ao longo de quatro anos, como também, aprovou todas as matérias de interesse da governadora nesse período.

Nominalmente, a Oposição à Fátima estava reduzida aos dois Ministros de Bolsonaro, os dois tendo muito o que fazer em Brasília; ao seu opositor, em 2018, Carlos Eduardo e o ex-senador Garibaldi Alves que havia tomado conta do MDB, com o filho Walter, Presidente do diretório estadual do Partido; os três se tornando emblemas da “oposição” estadual.

BOM TEMPO DE GOVERNO

Sem uma oposição consistente ao seu governo, tendo conquistado livre trânsito com toda a classe política potiguar a governadora Fátima deixou o tempo correr, sem precipitações.

Ai ela foi buscar os “inimigos”, que não se fizeram de rogados. Carlos Eduardo aceitou de bom grado o lugar de Senador na chapa de Fátima, e Walter Alves, filho de Garibaldi, o posto de vice governador já com um nítido projeto de Governo.

Só então a oposição compreendeu que não tinha candidato ao Governo. E saiu desesperada em busca de um, oferecendo o lugar de governador a quem aceitasse.

Assim surgiu o nome de Ezequiel (o mesmo Ezequiel parceiro de Fátima desde o segundo turno). Sem dizer que sim ou que não, o nome do Presidente da Assembleia esteve na parada por bons 15 dias. Foi então que a candidatura ao Governo caiu no colo de Fábio Dantas, filiado ao Solidariedade, cujo principal projeto era a re-eleição da esposa Cirstina Dantas para Deputado Estadual (o que foi conseguido) que ele havia tentado viabilizar apoiando Fátima, mas esta não quis conversa.

O ELEITOR NÃO PERDOA

Com Ezequiel candidato, Fátima manteve os mesmos 31,5% contra 9.9% de Stivenson e 9.2% de Ezequiel. A pesquisa seguinte, sem Ezequiel, manteve Fátima com  32.2% e Stivenson com 11.2%.

Nessa altura do campeonato a eleição estava definida. Definida por WO, uma vez que não havia aparecido nenhum outro candidato de verdade.

O ministro Fábio Faria desistiu de ser candidato e Rogério Marinho, escolhido por Bolsonaro, foi lutar pelo Senado, perdendo em todas as pesquisas enquanto Fátima e Lula fizeram de tudo para salvar Carlos Eduardo, que os havia agredido na última campanha.

Com a TV mostrando as contundentes críticas feitas por Carlos há menos de quadro anos, o eleitor não o perdoou, ao contrário de Fátima e Lula.

Reeleita por WO, Fátima não conseguiu barrar o seu principal “inimigo”, Rogério Marinho, que saiu vitorioso com mais de 143 mil votos do que Carlos, o candidato de Fátima e Lula. Mas, daqui a quatro anos – Certamente a decisão não será mais por WO.  Com um candidato já lançado, o vice-governador Walter Alves, que ainda na campanha passada não escondeu seu projeto com Fátima que “vai renunciar para disputar o Senado”. E Walter já estava em campo para a futura campanha…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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