Como o Poeta viu o Jogo
O Vexame
* Napoleão Veras
Um gol aos 40 segundos de jogo é mais que um balde de água fria para quem começava a ver a partida já frio e desesperançado – é pra tremer nas pernas.
Dali em diante só piorou.
Entre o City e o Flu, um abismo colossal, ou um passeio público em que brincam adultos com crianças. A imagem aproxima-se do real: aquilo ali foi de fato um baile, ou um passeio ameno, “passeio” no jargão futebolístico.
Confesso que o sentimento que me dominou, à medida que o time inglês estendia os tentáculos para nos anular, era de desolação.
Minutos depois, de vergonha.
Imaginar que ali se exibiam um futebol pentacampeão mundial versus um time inglês — país também uma vez campeão mundial, só que numa partida surrupiada, onde a
bola jamais entrou.
Haverão de dizer que é coisa do futebol globalizado, além de financiado a bambão pelos petrodólares dos Emirados Árabes.
Seria um motivo…
Mas, como e por que entrar em campo já derrotado, amarelado como o mais reles vira-latas? Com leveza, sem aura inferiorizada, só dois: o colombiano Árias e o menino-craque John Kennedy, colonizado só no nome.
No mais, um time sem valentia, diria até, obnubilado – essa palavra feia da psiquiatria que superficialmente quer dizer “incapaz de perceber, de reagir, de responder aos estímulos habituais”.
Para o cagaço, repetir a receita de João Saldanha pra canarinha de 70: postura, cunhão-roxo, grandeza histórica, e 11 feras em campo pra desmanchar.
Até Josep Guardiola reconhece o talento nato do futebol brasileiro. Sem falsidade aparente.