12 de maio de 2024
Opinião

Como um não político faz sucesso na política

 

 

Roda Viva – Tribuna do Norte – 10/08/22

De uma relação de vinte Senadores que elegeu desde 1946 (dois com quatro mandatos, um deles uma vez em eleição indireta, Dinarte Mariz, e José Agripino), nenhum deles tem uma história política tão surpreendente quanto Eann Styverson Valentin Mendes que apresenta – na sua biografia oficial –  sua “atuação no policiamento ostensivo (como Capitão e Tenente) sempre norteado pelo compromisso com a segurança pública, pela responsabilidade e probidade”, como a base de sua carreira.

Nascido em Rio Branco, capital do Acre, há 45 anos, mudou-se para Natal “ainda adolescente”, entrou para a Academia de Polícia e tornou-se oficial da PM em 2003.

Uma reportagem – em rede nacional de TV– mostrando que policiais militares do RN estavam extorquindo automobilistas, e o posterior aparecimento da fiscalização da “Lei Seca”, em colaboração com o DETRAN, colocou Styverson na vitrine punindo figurões da cidade e, contando com enorme aparato publicitário, construiu a imagem do justiceiro implacável exigindo a abstinência de álcool de todos os automobilistas. Essa bagagem bastou para virar Senador da República pelo Rio Grande do Norte, que antes havia mandado para o Câmara Alta respeitáveis figuras na sua representação.

 

NOVA POLÍTICA

 

A eleição do capitão Jair Bolsonaro, fora de qualquer expectativa, terminou gerando – na mídia – o aparecimento de argumentos para justificar a existência de um movimento popular (difícil de ser comprovado): a Nova Política, que tinha como fundamento o arquivamento dos velhos políticos todos eles abalados pela ação dos exterminadores da Operação Lava Jato que nivelou a todos, alguns sem prova, como corruptos,

No RN foram trocados os senadores José Agripino e Garibaldi Alves Filho, ambos integrantes da elite do Congresso Nacional pelo capitão Styverson e pela discreta deputada Zenaide Maia.

Zenaide, médica, com algum traquejo e Styverson sem nenhum sotaque do que é a ação política ou, muito menos, parlamentar. Nesses quatro anos, não conseguiu lugar em nenhuma comissão importante; nem apresentou qualquer projeto que tenha merecido destaque, e – praticamente – resumiu sua atuação parlamentar ao envio de ofícios de pedidos (para “Deus e o Mundo”) além de usar as redes sociais, operadas por onze assessores que o Senado lhe paga, onde destaca mais o que não fez (em matéria de gastos no seu gabinete) do que fez, especialmente emendas, acompanhada de ofícios para prefeitos querendo saber como os recursos destacados por ele foram aplicados. Só um desses Prefeitos não respondeu o ofício senatorial:  Allyson Bezerra, de Mossoró, dando como resposta a indicação de que nesse caso, como em todos os outros, Mossoró cumpriu a Lei. – Ponto.

 

APROVAÇÃO POPULAR

 

Não pensem que essa forma de fazer (ou não fazer) política está sendo reprovada pelo eleitorado do RN. Pelo contrário. Sem ter feito uma nova aliança; constituído um diretório partidário; marcando presença em velórios, bodas ou festas de aniversário; ou mesmo não participado de nenhum Debate sobre temas de interesse do Estado. Nada disso atingiu a imagem de Styversou junto ao eleitorado, onde parece preservar uma posição semelhante a de quando se elegeu Senador, há quatro anos.

Tendo ouvido, apenas, a própria mãe – como disse – ele anunciou sua candidatura ao Governo do Estado, nos últimos minutos, antes da conclusão do prazo estabelecido pelo Calendário Eleitoral, depois de ter conseguido mantar o seu nome nas pesquisas realizadas, mostrando que continua vivo na mente do eleitor do RN e no noticiário especializado.

Nem mesmo a sua briga com o próprio suplente, Alisson Taveira Rocha Leal, um desconhecido político do município de Touros, que pode ganhar quatro anos como Senador, não pareceu ter qualquer influência negativa no julgamento popular do titular, nem lhe trouxe desgaste.

O Senador tem conseguido se manter acima do bem e do mal, repetindo que não pede votos, nem pretende pedir, e sua candidatura pode ser peça importante na eleição para o Governo do Estado. Com ele, o Segundo Turno está praticamente assegurado, segundo especialistas.

 

PRIMEIRO E ÚNICO

 

Styverson é uma espécie da Rei Momo – “primeiro e único” – do Podemos, legenda que abrigou a senadora Zenaide Maia (e o marido dela, Jaime Calado, Presidente de fato) por breve período e tem o capitão como único detentor de mandato federal no Estado, disputando o cargo de Governador (tendo completado a chapa com a ex-secretária da Saúde de Parnamirim, Francisca Henrique, como candidata a Vice).

Dono do partido, ele não procurou ninguém para oferecer legenda, nem se envolveu com a administração partidária, mantendo um suspense sobre seu futuro político, até destampar como candidato a Governador no último minuto, antes de acabar o prazo.

Numa de suas raras entrevistas que concedeu, depois de confirmar a candidatura, reafirmou que não vai pedir votos ou subir no palanque de ninguém.

Assim mesmo nenhum grupo político do RN ignora – ou subestima – a sua presença no pleito. Como no jogo de poker todos vão ter

de pagar para ver seu jogo.

 

HORA DO DEBATE

 

Na primeira oportunidade em público como candidato ao Governo, no último domingo, estava lá na telinha da BAND participando do primeiro Debate entre governadoráveis. Vestia jeans e um blazer justo, o suficiente para ressaltar a montanha de músculos do seu corpo, no primeiro confronto junto com outros candidatos ao Governo, todos nivelados por baixo.

Saiu ileso, assim como os outros quatro concorrentes. Não apresentou nada de excepcional nem nada que destoasse da média, ou que comprometesse a sua imagem no conjunto.

Recém divorciado, um filho, tendo admitido até mudanças na sua orientação sexual, começa a campanha sem precisar mudar o que está escrito na sua biografia oficial: “Atuou no policiamento ostensivo sempre norteado pelo compromisso com a segurança pública, pela responsabilidade e probidade.”  Sendo um dos 81 “príncipes da República” agora coloca seu nome para ser Governador. –  Sem pedir voto.

One thought on “Como um não político faz sucesso na política

  • PedroArtur

    Tem muita gente preocupado com o capitao , os figuroes da politica do RN que nunca fizeram nada pelo estado tem que se preocupar mesmo, o unico que fez alguma coisa quando entao ministro foi Rogerio Marinho os outros nada, valeu capitao .

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