3 de maio de 2024
Política

CONSERTO QUE NUNCA TERÁ

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Aqueles eletrodomésticos que a gente ganhava de presente dos padrinhos de casamento e a vida toda não esquecia quem deu, são agora descartáveis.

Entram e saem da moda, como camisas que dão volta ao mundo em cores ban-lon.

No tempo que achávamos que era nosso, o tempo e o mundo.

Quanta diferença.

Ferro de engomar, feito de flandre e plástico.

Liquidificador, com velocidade de Usain Bolt, nunca necessária.

Enceradeira que não brilha porcelanato.

Batedeira, pra quem faz  bolo de padaria.

Faqueiro de aço suíço  desaparecido da cozinha, sem aviso prévio.

Porcelana inglesa,  resistente a superbonder.

Não são mais como os de antigamente. Não são mais fabricados. Tudo já vem feito.

De longe, de fora.

Para perto, para dentro das nossas casas.

Poliglotas, polivalentes.

Instruções em toda língua e desenhos.

Voltagem pra qualquer fio e tomada de três pinos.

Presidiários fabricam, sonegadores trazem, camelôs vendem.

Nós compramos.

Ao preço de 1,99. Corrigida a variação do dólar.

E la garantia?

Soy yo.

Estamos mesmo dominados.

Eles vieram, viram e venceram.

Há tempos, invadiram nossos lares.

O tanto de ganhar confiança, que no  começo era cisma só. Tão baratos, não duravam. Nem prestavam.

Quem haveria de imaginar um ching ling no altar da telefunken, santa alemã parruda que como carro japonês, nunca dava oficina.

E foram chegando.

Singrando mares.

Desembarcando em porto que nunca existiu, no lago azul de Ypacaraí.

Por todo canto, ocuparam os espaços.

É só cair uma neblina que na próxima esquina, sombrinhas e guarda-chuvas descem automaticamente dos céus, para nos  proteger de resfriados.

Daqueles das velhas, boas  e esperadas epidemias sazonais.

Mesmo agravados por mormaço, não resistiam  à uma dose de limão com mel nem ao chulo mastruz com leite.

Agora, voltam autoritários.

Obedece quem tem juízo.

Arrasam quarteirões.

Param tudo. Até guarda de trânsito.

Organizados, dão lições de comportamento e resistência.

Depois que tudo voltar ao novo normal, será que não vamos entender que tem coisa que não vale a pena, não compensa consertar?

Que é mais fácil, barato e lógico, comprar um novo.

Trocar o que não tem conserto.

Mesmo que ocupe um alto cargo da República.

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(Há um ano, quando da postagem inicial do texto acima,  a mercadoria mal tinha saído da garantia.

O prolongamento da crise sanitária e o perdão do ministro da suprema corte, trazem o risco de acabar sendo trocada por usada, desgastada e de má procedência).

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