1 de maio de 2024
Tecnologia

CONVERSAS DO OUTRO MUNDO

La Toussaint, Dia de Todos os Santos (1888) – Émile Friant – Museu de Belas Artes de Nancy, França.


Alguns mistérios resistem ao tempo, às modernidades e às tecnologias, apesar de muitos estarem  sempre tentando saber o que tem, se é que tem, depois da última fronteira.

Exemplos é que não faltam.

Como o da jovem bisavó que não chegou a  perder o senso,  mas ficou pálida, de espanto, com o nome que apareceu no visor do celular.

De um primo muito querido, falecido há alguns anos.

Naquele átimo entre o toque e o primeiro alô, o pensamento esperançoso que pudesse ser possível alguns segundos de conversa.

Suficientes para saber as notícias da vida nova e dar as dos que ficaram.

Dizer como tudo continua.

E a saudade que era imensa.

A voz da viúva e o mistério da agenda do telefone que não atualizou  o chamador, foi o despertar para reflexões profundas.

Religiões ocidentais acreditam que as almas dos falecidos continuam solidárias com os que ainda vivem a peregrinação neste vale de lágrimas.

Relatos e registros de aparições de anjos e santos fizeram muitos outros santos.

Não é de hoje que as vozes do além são perseguidas.

Thomas Edison, o inventor da lâmpada elétrica, previu que, um dia, o homem seria capaz de construir uma máquina para falar com os mortos.

No século passado ganhou força a tese que os espíritos poderiam enviar mensagens por meio de rádios, vitrolas e outros equipamentos nas chamadas vozes eletrônicas.

Em tempos modernos o ciberespaço é o céu e o aplicativo seu médium e cavalo alado.

O que antes era conseguido só com muita concentração e fé, ao redor de uma mesa branca, está disponível ao toque no smartphone. As mensagens trazidas pelas entidades e espíritos de trabalho estão até no Facebook.

As mesmas que confortavam e apascentavam os familiares saudosos são psicografadas, postadas e curtidas. Sempre acompanhadas das melhores fotos.

Uma startup americana, usando elementos de inteligência artificial, construiu, a partir de diálogos antigos no WhatsApp e Telegram, um canal de comunicação em que o falecido responde a perguntas.   

Através de uma rede neural de processamento de antigas mensagens, a conversa é possível.

É como se a memória de quem não mais existe fisicamente, fosse guardada nas nuvens de  um computador, mantendo-a viva e ativa.

Quando os fãs do cantor Prince descobriram num app, a chance de manter viva a lembrança do ídolo, o sucesso reencarnou o gênio de Mineápolis.

Não é mais novidade que em missa de sétimo dia, ao término da cerimônia,  nas homenagens da família e amigos, um  celular seja aproximado do microfone para que todos possam ouvir claramente uma tocante mensagem de conforto, na voz da  pranteada.

Nossos entes queridos não morreram, apenas ficaram invisíveis aos nossos olhos.                              – Chico Xavier.

La Douleur, A Dor (1898) – Émile Friant – Museu de Belas Artes de Nancy, França

(Publicação original em 21/09/2019)

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