3 de maio de 2024
Política

CPX DE CPI

Samba*- Di Cavalcanti


Nunca antes na história deste país, houve eleição mais disputada.

Quem pensava que já tinha visto tudo (e brigado tudo com os parentes) há quatro anos, errou.

Tão feio quanto erraram  as pesquisas contratadas para fazer a cabeça do eleitor indeciso.

Na reta final, o tema central continuou página nunca virada na pauta dos candidatos.

Pelo que se discutiu nas redes sociais, religião é o principal problema desta  continental republiqueta laica.

Os lances mais empolgantes da campanha foram pelejados em frente aos altares divinos.

Sob os sons dos atabaques, foram evocados os espiritos dos cortadores de pedras que ergueram muralhas na idade média e dos imigrantes compulsórios que romperam os grilhões nos navios negreiros.

Nos átrios das suntuosas basílicas, a ponto de instalar postos de checagem para exigir dos frequentadores, atestados de vacina contra o mal endêmico das preces fingidas, ouviam-se profanos cânticos.

Finalmente cumprido   o vaticínio do  profeta Leonel de Moura Brizola:

Vai ser a concorrência do diabo com o demônio, e o vencedor será o inferno.

Enquanto a visagem de Antônio Conselheiro só era real na novela das seis, o dragão da maldade acendia sua fogueira, numa guerra sem nenhum  santo guerreiro para bradar:

Mais fortes são os poderes do povo.

Ainda restava uma esperança.

Como uma flor desabrochando no esterco do lamaçal que fomos obrigados a assistir no horário eleitoral pago com os impostos retirados, quais fecalomas,  à força, dos nossos fundões.

A última flor do Lácio mostrou seu encanto.

Dos condomínios bem vigiados, às favelas mais abandonadas, surgiu uma polêmica etimológica que calou os fuzis paraguaios e suspendeu as fileiras do doce pó branco.

Quem veio primeiro, a abreviatura ou a gíria que a inspirou?

Complexus, a madre língua ensina, é por si, um paradoxo: “o que rodeia, o que inclui”.

Para a Psicologia, é um padrão de emoções e desejos inconscientes, organizados em torno de poder e status.

Onze meses depois da lacração das urnas desauditadas, ainda não nos livramos do CPX de Vira-lata.

A CPI da Revolta das Manicures do Oito de Janeiro e o relatório da Senadora CPX do Maranhão estão aí como provas.

Favela (1958) – Di Cavalcanti – Pinacoteca do Estado de São Paulo

N. do R.

1. O quadro Samba, de Di Cavalcanti, pintado em 1925, foi destruído em 2012, em um incêndio ocorrido no apartamento do marchand e colecionador Jean Boghici

2. Há controvérsias sobre o significado da sigla CPX: Complexo ou Cupinxa?

3. O texto contém partes de Política Abreviada, publicação de  04/10/2022

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