CRIANÇAS EM ALPHA
Quem se atreve a escrever sobre o futuro, corre o risco de em pouco tempo, descobrir-se comedido nos devaneios.
Quem, há três anos, haveria de prever que o mundo, paralisado de medo, fecharia para balanço e o primeiro ensaio de normalidade, muito além dos quarenta dias imaginados, tragado por nova onda, não seria o último?
A geração das crianças de hoje, chegarão às portas do admitavel mundo novo, antes que imaginado por Aldous Huxley.
Uma vida melhor, como nunca existiu.
É o que se espera dos netos dos baby boomers, nascidos de 2010 pra cá.
A vez, a hora e o porvir, a eles pertencem.
Essa turminha está se preparando para consertar os malfeitos e estragos deixados por quem veio antes, ficou pra trás, ou ainda vaga neste vale de lágrimas.
Na sucessão de gerações, depois das X, Y e Z, na falta de mais letras no alfabeto, foi dado reset, reinicializada e batizada de Geração Alpha.
Crianças nascidas em ambiente tecnológico, serão mais independentes e aptas para resolver problemas.
Com carga maior de estímulos, mais inteligentes e resolutivas.
Já vivem em ambiente com menos hierarquia, mais diálogo e diversidade.
Não adianta reclamar da falta de respeito aos pais. Melhor economizarmos o pouco tempo que nos resta.
Eles não vão pedir a benção, nem permissão para fazer o que acham certo.
É bom já-ir-se-acostumando. Papai e mamãe vão ser chamados de vocês, mesmo.
O Senhor e a Senhora estão no Céu, diria nossa bisavó.
Serão cada vez mais independentes, naturais, ecológicos, sinceros e felizes.
Trabalharão muito menos que os velhos burros de carga.
Acumularão quase nada.
Viverão com o essencial.
Sai o lazer, entra o viver.
O resto, a inteligência artificial proverá.
Solte a imaginação, dê asas ao que não veremos voar.
Quais serão as atividades de um médico que vai colar grau (será encontrado outro termo com menos naftalina) em 2050?
Cirurgião, não vai ser.
O robô já está operando quase sozinho.
Radiologista? A transsonância fará o exame e mandará imagens esculpidas e laudos para o cleverphone do médico.
Mas será ainda preciso, um doutor de carne e osso pra fazer, o que?
Consultas, pedir exames, prescrever?
Essas coisas de 12?
De 2012?
Quem vai substituir o esculápio, o nome ninguém sabe.
A profissão ainda não existe, nem conhecidas suas competências.
O próprio paciente, ou melhor, a própria pessoa que quer saber o que não está funcionando bem no seu corpo, vai alimentar seu Health Card com o rol dos sintomas e um algoritmo, calculado online, soltará um diagnóstico no capricho.
Com 99,9% de acerto e acompanhado do esquema terapêutico.
O que ainda não dá pra prever é o que será feito das coisas obsoletas e inúteis.
E com os políticos.
Aceitam-se sugestões.
Enviar mensagem teletransmutável para a AAAG.
Administração Automatizada Autônoma Global.
(Revisita ao texto publicado em 23/07/2019)