28 de abril de 2024
ComportamentoFamilia

CRIANÇAS TRANQUILAS

Criança em birra (1635) – Rembrandt van Rijn – Coleção particular


Se não fosse pelo testemunho da vasta obra de Pedro Bloch (1914-2004), era de se creditar à vida moderna, com sua parafernália de engenhocas eletrônicas, a desenvoltura das crianças dos tempos pandêmicos.

Autor de mais de cem títulos, entre eles, o monólogo para o teatro, As Mãos de Euridice, deixou sua marca mais indelével nas estórias que contava dos seus pequenos pacientes do consultório de Foniatria.

Dona Xepa, sucesso transportado para o universo mágico das novelas de televisão divide seu título mais popular com o sempre atual Criança Diz Cada Uma!

Quem sabia ouvir e falar a linguagem dos pequenos,  estará sempre na lembrança dos avós, quando surgir uma pergunta inesperada ou uma resposta desconcertante.

Mesmo os que acham que os netos suplantam os filhos com observações e comentários inusitados, terão aquela página da Revista Manchete como referência pra nunca ser esquecida.

Os exemplos dos crescidos é que tiram a inocência dos pequenos.

Quando menos se espera, lá estão eles com atitudes que escondem sinceridade e malfeitos.

A visão particular do mundo que não se mistura com o dos adultos é que mantém toda graça do que eles aprontam e falam.

O tempo fugaz, num piscar de olhos, eles já tomam consciência do próprio corpo e que são seres em evolução.

Para logo,  serem iguais a seus espelhos.

Ao ouvir dos pais, comentários  que a feira estava acabando mais rápido nos  dias e meses de isolamento social, aos sete anos, o voraz consumidor final não deixou de dar sua explicação, digna de um comentarista econômico:

Estou comendo mais porque estou em crescimento.

Não se discute a evolução da autonomia precoce traduzida em pequenas observações que começam muito cedo.

A netinha de dois anos andava tão sem entusiasmo com o tempero doméstico que recebeu da mãe a promessa de  uma comida especial.

– De raspar o prato e pedir bis.

O anúncio do manjar fora do trivial não correspondeu às expectativas e  ao gosto na vida real.

No questionário para avaliar o nível de satisfação da cliente com a iguaria extra do cardápio, a crítica mais arrasadora.

Não acho uma bisnaguinha com mel, especial.

A compensação é que a turminha, cada vez mais ciente das preocupações e cuidados constantes que requer, também ajuda quem a protege.

O silêncio do apartamento, quebrado logo depois que a mesma gourmant entrava na cozinha, é a prova.

O porta-guardanapos aos pedaços e os papéis espalhados pelo chão deixaram de ser motivo de preocupação depois de tranquilizadora afirmação.

O anúncio que a situação estava sob controle não deixa dúvidas sobre quem é que anda com os nervos à flor da pele.

Mãe, estou tranquila.

A próxima geração vai aposentar o Lexotan.

Duas mulheres ensinam uma criança a andar (1640) – Museu Rembrandt van Rijn -Britânico, Londres


(Publicação original em 12/02/2021)

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