2 de maio de 2024
Opinião

Democracia não tem lugar para uma campanha secreta

Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 22/06/22

Nos anos ´70/´80, antes da chegada da televisão comercial ao RN, o Diário de Natal era o veículo de comunicação com maior prestígio e maior audiência em todo o Estado.

Pertencente a uma cadeia nacional – os Diários Associados, de Assis Chateaubriand – e tendo um “dono” no Estado, o jornalista Luiz Maria Alves, desfrutava de situação invejável, sobretudo no noticiário político, por não estar filiado a nenhum grupo e sempre aberto para todos, via departamento comercial.

Além dos melhores salários (pagos religiosamente em dia) e do prestígio que desfrutavam os repórteres do Diário ainda conquistaram a presença das maiores figuras da política estadual, nos fins de tarde, na tosca cantina da redação.

Foi nesse ambiente que recebi uma das maiores lições de política que tem me acompanhado a vida inteira:

– Em política não existem coincidências.. – Afirmava o deputado Djalma Marinho, o de maior prestígio na elite da grande imprensa nacional…

 

REPÓRTERES & FONTES

 

Por que essa lembrança de Djalma Marinho?

Certamente não foi por causa do seu neto, Rogério, que disputa uma cadeira de Senador que ele não conseguiu conquistar nas urnas.

Na presença dos principais presidenciáveis em Natal, Rogerio cumpriu o ritual completo, ao lado do seu candidato a Presidente, e ainda havia sido beneficiado por um desaforo dito pelo próprio ex-presidente Lula, na véspera, tendo merecido um lugar na garupa da moto de Bolsonaro

Se há coincidência (que não há) mesmo seria com o virtual candidato (ou aspirante a candidato da oposição), Fábio Dantas não ter aparecido, nem referido, e muito menos visto.

–  Por que?

A própria trajetória de Fábio Dantas não aparece adequada ao sumiço de um candidato a posto majoritário, justamente no dia da movimentação do candidato a Presidente da República, Jair Bolsonaro que lhe dá suporte.

Logo ele, carente de apoios, e de um grupo político capaz de inserí-lo na disputa estadual, somando para si dois sentimentos indispensáveis a decolagem de sua candidatura a Governador:

– Fazer oposição a governadora Fátima e de sentimento anti-petista? E trocar isso por um compromisso pré-agendado em João Pessoa?  – Acredite quem quiser…

 

SUCESSOR DO WO

 

Essa é uma história que precisa ser contada. Afinal, desde o aparecimento dos primeiros nomes, além da Governadora buscando a re-eleição, faltava o contra ponto. – Quem seria o candidato da Oposição?

E começou a aparecer a hipótese, inclusive na imprensa nacional (fato nunca registrado no RN), da eleição para Governador do Estado ser decidida por WO.

W.O. ou “Walkover” (em inglês), é a atribuição de vitória a uma equipe ou competidor quando o time adversário está impossibilitado de competir, por qualquer razão.

*Walkover  significa “vitória fácil”, mas também pode ser uma abreviação da expressão “Without opponent”, que significa “sem oponente”.

Primeiro foi o Prefeito de Natal, Álvaro Dias, bem avaliado e reeleito, que não se encantou com uma nova disputa preferindo permanecer no cargo.

Havia também uma possível disputa entre os ministros Rogério Marinho e Fábio Faria (os dois queriam o Senado e nenhum deles o Governo).

Ai apareceu o nome de Ezequiel Ferreira de Souza, Presidente da Assembleia.

Só faltou fazerem um andor para levá-lo em procissão até o palanque.

Uma semana de manchetes depois ele retirou-se sem precisar dar maiores explicações. Saiu do jeito que havia entrado…

POLÍTICA NÃO TEM VAZIO

Como em política também não existe o vazio, Fábio Dantas, que foi vice de Robinson Faria, e corria por fora, inclusive conversando com situação e oposição indistintamente, resolveu tomar o lugar do dr. WO.

Ligou-se ao comandante da campanha bolsonarista, Rogério Marinho, fez várias viagens com ele, pelo Interior, se colocando como o candidato da Oposição, atitude reforçada em algumas entrevistas criticando Fátima e ao seu Governo. E conhecendo um respeitável esquema político formado.

Desde que ele quis ocupar o lugar do “candidato da oposição”, não apareceu melhor oportunidade.

Num dia Lula movimentava as suas forças, aproveitando a realização de uma Feira Nordestina de Agricultura Familiar e até uma reunião de Governadores do Nordeste, contando pela primeira vez com a chapa completa.

E, do outro, a presença do presidente Jair Bolsonaro, com direito até a uma motociata.

O povo nas ruas, oferecia o indispensável cenário para o início de qualquer  campanha eleitoral, sem necessidade de esforço para dizer quem contou com maior público. O público existente era suficiente para os dois.

CAMPANHA SEM MISTÉRIO

Agora, voltamos ao princípio das nossas conjecturas:

– Por que o Candidato sumiu no dia que podia fixar definitivamente sua candidatura?

Agora que se sabe por onde Fabio Dantas andou no feriadão de Corpus Christi, justo quando o grupo de quem ele espera apoio marcava o início do seu programa de candidato a Governador.

É difícil acreditar nessa coincidência: – Fábio Dantas faltou a festa ou não deixaram ele participar do evento?

Por menos que um candidato a Governador provoque interesse do público, os órgãos de comunicação não podem aceitar também a posição de ausência total.

Quatro dias depois, essa Tribuna desfez o mistério

No tempo em que jornalistas acompanhavam tudo que acontecia – ou deveria acontecer – num determinado setor não se poderia imaginar um caso desses, quatro dias (uma “eternidade”) e nenhuma explicação.

– Democracia não é feita de campanha  secreta…

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