28 de abril de 2024
BolsonaroPolítica

Deu no The New York Times: Bolsonaro é o favorito

Na seção de hoje, Ensaio de Convidado, do The New York Times, o historiador André Pagliarini, que trabalha um livro sobre a política do nacionalismo no Brasil, analisa as eleições brasileiras do domingo passado, em clima de velório.

Pelo título do artigo, se nota que a decepção pela não eleição de Lula da Silva,logo no primeiro  turno,  não foi só dos companheiros brasileiros.

Foto: Andressa Anholete/Getty Images

 

Bolsonaro está a um passo de uma tomada de poder

Por André Pagliarini

A dura repreensão ao governo reacionário de Jair Bolsonaro, previsto pelas pesquisas e desejado por milhões, não se concretizou.

O Brasil está no limite.

Não foi tudo ruim.  Na eleição presidencial de domingo, Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-líder sindical de centro-esquerda que governou habilmente o Brasil de 2003 a 2011, obteve cerca de 48% dos votos, um desempenho saudável dentro da margem de erro final das pesquisas.  Mas Bolsonaro excedeu seu teto presumido, pegando 43% – muito acima das previsões anteriores – e estabelecendo o que provavelmente será um segundo turno mais próximo do que o esperado em 30 de outubro.

Os resultados mostraram, sem sombra de dúvida, que Bolsonaro não é um acidente da história.  Pode ter sido possível descartar sua surpreendente eleição quatro anos atrás, quando ele subiu ao poder em uma onda de sentimento anti-esquerda generalizado, como um acaso.  Não mais.  Subjacente a seus vagos apelos a “Deus, pátria e família” está um alicerce de apoio, espalhado por todo o país e abrangendo uma ampla seção transversal da sociedade.  Independentemente do resultado no final do mês, os ânimos que Bolsonaro animou e a política que ele cultivou vieram para ficar.

O início de Bolsonaro na política brasileira foi ignominioso.  Capitão do exército, ele chamou a atenção nacional pela primeira vez em meados da década de 1980, quando as forças armadas estavam começando uma retirada tática da vida política após duas décadas de regime militar.  Uma importante revista de notícias revelou que Bolsonaro, ressentido com a baixa remuneração, planejava bombardear um quartel no Rio de Janeiro.  O objetivo, disse ele ao repórter com notável franqueza, era envergonhar o impopular ministro do Exército.

Após uma enxurrada de publicidade e uma investigação interna na qual Bolsonaro parecia ameaçar o jornalista por testemunhar contra ele, o incidente foi amplamente esquecido.  Mas a arrogância machista era típica de Bolsonaro, um soldado sem brilho cujas ambições políticas descomunais muitas vezes incomodavam figuras militares de alto escalão.  Mesmo assim, sua formação militar provou ser eleitoralmente útil.  Em 1988, após a restauração da democracia brasileira, iniciou a carreira política como representante dos interesses e perspectivas do militar comum.

Com o tempo, seus apelos assumiram um teor mais geral de direita, abraçando o impulso conservador, senão a teologia do cristianismo evangélico.  A política de Bolsonaro – uma mistura de intolerância, autoritarismo, moralismo religioso, neoliberalismo e teorização de conspiração livre – foi amplamente deixada de lado após o regime militar.  Mas 13 anos de governos progressistas do Partido dos Trabalhadores deram origem ao descontentamento da direita.  Para os números, as repetidas vitórias eleitorais da esquerda cheiravam a jogo sujo e desacreditavam a própria noção de democracia.  À frente dessa acusação, dotada de inimitável linguagem bombástica ideológica, estava o Sr. Bolsonaro.  Na maior democracia da América Latina, ele agora fala por dezenas de milhões.

Domingo sublinhou este lamentável estado de coisas.  Os candidatos endossados ​​por Bolsonaro tiveram desempenho superior em todos os lugares, conquistando grandes vitórias contra candidatos apoiados por Lula em São Paulo e no Rio de Janeiro.  De fato, o primeiro turno de votação sugere não apenas que o projeto político que prevaleceu em 2018 – em uma palavra, “bolsonarismo” – está vivo e bem, mas também que tem espaço para crescer.  Considerando o tratamento desastroso de Bolsonaro com o Covid-19, suas ameaças consistentes à democracia brasileira e a onda de escândalos de corrupção que cercam ele e sua família, essa é uma perspectiva sombria.

Mas não um inexplicável.  Embora haja muito que não sabemos – o censo, atrasado pela pandemia e sabotagem institucional, tem mais de uma década – algumas coisas são claras.  Embora Bolsonaro tenha mantido sua vantagem esmagadora nas partes oeste e noroeste do país, o aspecto mais marcante da eleição foi a forma como ela caiu de acordo com as linhas estabelecidas de apoio regional.  No Sudeste, tradicional bastião da política conservadora, Bolsonaro prosperou.  No nordeste, reduto do Partido dos Trabalhadores, o Sr. da Silva se destacou.  O sucesso de Bolsonaro tem sido manter e estender a tradicional base conservadora de apoio, entusiasmando-a com suas amargas denúncias aos progressistas, ao sistema de justiça, aos jornalistas e às instituições internacionais

One thought on “Deu no The New York Times: Bolsonaro é o favorito

  • Francisco Ferreira Júnior

    Realmente esse bandido, canalha, genocida, ladrão de imóveis é o favorito para ir para a papuda juntamente com sua tropa trupe de milicianos. E não venham ameaçar o povo com historinhas de crimes porque agora a vitória será acachapante.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *