3 de maio de 2024
Coronavírus

DOCE VÍRUS

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Antes de visar o passaporte diplomático que facilitou a entrada em todos os países, a Covid-19 não teve vida tão opulenta e triunfante como a de agora.

Acostumada ao ambiente sombrio e úmido das batcavernas, teve que enfrentar pelo menos dois grandes desafios.

Ganhar ritmo de guerra e testar suas forças em campos mais hostis, contra adversários com outros estilos e preparo físico que só  uma mesa  farta proporciona.

Em 2002, ainda na China, fez uma série de treinamentos e simulações, tendo infectado 8 mil pessoas. No ano seguinte, já tinha causado 800 mortes.

A notícia da tragédia longínqua não ganhou espaços na mídia ocidental.

Com nome de causar medo em qualquer lugar, a Síndrome Respiratória Aguda Grave foi controlada e impedida de ir além dos limites determinados  pelo rígido controle do governo.

Mais ninguém se interessou por ela. Ninguém se comoveu.

A Organização Mundial da Saúde fez um alerta burocrático e tudo acabaria como mais um negócio e problema da China.

Com o mesmo contingente e algumas variantes, trocou de nome para Síndrome Respiratória do Oriente Médio, para  uma temporada de operações em climas mais áridos. Vagou pelas areias do deserto, de 2012 a 2018.

Na Arábia Saudita e Jordânia, levou mais de duas mil pessoas aos hospitais e de novo, 800 nunca mais voltaram para casa.

Como deu o salto para bater de frente com os exércitos mais poderosos, antes de explodir e incorporar o 19 ao nome, não se tem certeza.

É permitido pensar que uma das rotas tenha começado no Corno da África, tomado as florestas tropicais subsaarianas, até chegar aos confins das costas atlânticas no sudoeste do continente.

Se não fosse uma coincidência do nome de um doce comum em Angola, este fio que guiou a transmissão do vírus, estaria partido.

Alguns epidemiologistas defendem a ideia que a saliva abundante dos dromedários e outros camelídeos foi o vetor que ajudou a transmitir a avassaladora doença.

Nem os portugueses que dominaram o país e impuseram a língua sobre as tribais, Umbundu, Kimbundu, Kikongo,  Chócue , Ganguela,  Nganguela e Kwanyama, perceberam o engano da prosódia, que não passou despercebido pelos nordestinos d’além-mar.

A terrível infecção acomete, preferencialmente,  os mais idosos e os diabéticos, em particular.

É a hiperglicemia que nutre e transporta o invasor faminto.

O mesmo ingrediente trazido pelos navios negreiros, depois de conquistar senzalas e casas grandes, virou commodity e fonte de energia renovável.

Os cambas, incomodados, afobados, de pitéu, só querem quitute.

Quem aprendeu a falar em linguajar castiço e cultiva a última flor do Lácio nunca vai entender.

Os amigos, doentes, famintos, de comida, só querem doce.

Mistério resolvido.

O coronavírus também não resistiu ao sabor e à doçura da Baba de Camelo.

 

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Veja o vídeo:
Dicionário de Angolano

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