DOIS CAPITÃES ALÉM DO LIMITE
Há um ano, ainda não se especulava que o precursor de todos os reality shows pudesse ser reeditado depois de duas décadas, quando foi lembrado por conta do registro da participação potiguar.
Cópia fiel do megassucesso americano, Survivor, mostrava em episódios aos domingos, em horário pós-nobre, jovens bem preparados fisicamente, em equipes identificadas por cores, sob o comando do jornalista Zeca Camargo, disputas de provas de resistência.
Dramáticas desistências e desabamentos psicológicos, valorizavam ainda mais os premiados que sobreviviam, com uma grana preta, um fiat uno e um passaporte de celebridade instantânea.
Na terceira e última temporada, Natal entrou no ar.
Não como cenário das aventuras, mas pela origem de um participante.
Um certo capitão da Polícia Militar, recentemente promovido a coronel full, que arregimentou uma imensa torcida, em tempos de redes sociais que não iam além dos papos de esquina.
Ganhou o prêmio e recepção de herói no aeroporto, com direito a carreata e over exposição nas mídias da época.
Só não foi eleito senador, por falta de ousadia.
Enquanto a pandemia obrigava o isolamento doméstico, seu mais bem sucedido sucessor, o Big Brother Brasil, era recorde de audiência, batido na segunda onda, pela fornada Juliette.
A sugestão de retorno à programação foi apresentada neste canto de telinha de smartphone, sem maiores expectativas.
Depois de andar de ceca a meca, o antigo apresentador estava no canto da geladeira num programa sabatino-matinal de baixa audiência, ensinando como recuperar cadeira velha e outras marchetarias.
Entrou nas primeiras levas do PDV da Globo, para voltar a andar pelo Brasil nas asas da Band.
A ideia era atualizar a luta pela sobrevivência, à base de comida de delivery e como manter a casa sempre arrumada, sem ajuda da faxineira.
Espaço na grade da programação era o que não faltava.
No horário que os doutores do terror apresentavam números de congelar as espinhas dorsais, mensagens de perseverança e otimismo cairiam bem.
Além de ser mais uma oportunidade pra se usar a palavra que estava entrando na moda.
Resiliência era tudo
Não se pensava que ex-BBBs, sem valsas de debutantes nem festas de bacanas para abrilhantar, estariam disponíveis para mais um confinamento.
Desta vez, no meio da natureza. Soltos e sempre, selvagens.
Pensou-se até que os picos de audiência estariam garantidos com o elemento surpresa, de um participante que ninguém poderia imaginar.
Fica como recordação, a indicação de quem tinha tudo a ver com o programa, e continua precisando de um afastamento, mesmo que temporário, das altas e estressantes funções que ocupa.
Para respirar outros ares, arejar a cabeça, acalmar os nervos, ordenar as ideias e voltar de pilha nova, antes do início da campanha pela reeleição.
Atleta a vida toda, tendo sobrevivido a dois divórcios, três casamentos, quatro filhos encrenqueiros, uma facada, um ministro metido a estrela e outro traíra, o capitão-presidente estava talhado para o desafio.
Um pouco antes, ele havia confessado aos discípulos, no partenon do cercadinho.
Estou No Limite.