1 de maio de 2024
Celebridade

DUAS VIÚVAS

Poema de toque nº 5 (1960) – Yoko Ono – Museu Metropolitano de Arte, MoMa, Nova Iorque


Mark Chapman
, o assassino de John Lennon, teve novo  pedido de liberdade condicional negado, o que acontece a cada dois anos, desde que passou a ter este direito a partir de 2000.

Foi  a 12ª negativa.

O ex-Beatle foi morto a tiros por Chapman  em 8 de dezembro de 1980, na frente do Edifício Dakota, em Nova York.

40 anos depois da condenação à pena perpétua, o assassino pediu mais uma vez, desculpas à família de quem tirou a vida por egoísmo e glória pessoal.

Este ano ele concedeu uma rara entrevista:

O que importa é que sinto muito por minhas ações. Sinto muito pelo meu crime. A cada ano que passa, sinto mais e mais vergonha”.

Ele também afirmou que lutava contra a depressão e problemas de saúde mental ao longo da vida, que teriam colaborado para seu estado capaz de assassinar Lennon.

Yoko Ono, 89 anos,  apresentou mais uma contestação à solicitação do prisioneiro, com o argumento do perigo que ela e o filho, Sean correriam com a liberdade de quem confessou o crime sem outro motivo, a não ser o de  sair do anonimato.

Artista reconhecida pelo talento e próprios méritos, a fama como companheira do músico genial, é muitas vezes maior, alimentada em lembranças e direitos autorais.

A jovem que ouviu do marido os desejos de tornar-se conhecido por tirar a vida de alguma celebridade, nunca teve o casamento abalado.

Já declarou que o amor a faz esperar o marido sair da prisão, não importa quanto  demore.

Nesta história de quatro personagens, o mais vivo de todos é o falecido.

Chapman, como tantos outros, saiu da sua mediocridade e falta de perspectivas, para fazer a Big Apple.

No topo do mundo, transformou uma morte em sua vida.

Considerado um presidiário exemplar, aplicado no trabalho que desempenha numa portaria interna da unidade prisional, só recebe visitas da mulher e dos advogados.

Aquele senhor que aos  67 anos ainda parece muito com o texano de 25, identificado com as pessoas solitárias e isoladas que encontrava nos livros que fazia de cabeceira.

Glória, a esposa que não podia imaginar o que o parceiro  seria capaz de ousar para alcançá-la e Yoko, a guardiã do legado, convivem igualmente com as mesmas saudades.

Do ausente, que se mantém presente, preenchendo muitas vidas.

Do  presente, que se mantém ausente, na vida vazia e isolada de sempre, no cárcere para sempre.

Yoko Ono

Glória Hiroto

Viúvas do mesmo mito.

Pintura de Teto/ O Poder da Palavra Sim (1966) Yoko Ono – peça apresentada na retrospectiva de Ono, em 2014 no Museu Guggenheim de Bilbao, Espanha.

                                        ***
Lennon e Yoko  se conheceram em 7 de novembro de 1966 na Indica Gallery em Londres, onde Yoko preparou sua exposição de arte conceitual, e  expôs a inédita Pintura de Teto que deixou o futuro marido impressionado:

“Eu me senti aliviado. É um grande alívio quando você sobe a escada e olha pela lupa e ela não diz ‘não’ ou ‘foda-se’ ou algo assim. Ela diz ‘sim’”.

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