5 de maio de 2024
Opinião

Eleição sem partidos e com nominata será pura emoção

 

Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 17/08/22

A extinção – na prática – dos partidos políticos no Brasil (mesmo restando 32 deles legalizados) terminou tirando dos observadores um dos principais parâmetros para se fazer previsão do resultado das urnas.

A atual debilidade dos partidos começou com Ato Institucional nº 2, editado em 27 de Outubro de 1965, como uma resposta do governo militar ao resultado da eleição para cargos estaduais e municipais, consentida naquele mês, que revelou a impossibilidade do controle do sistema político pelo governo militar sem ter o controle dos partidos. O governo militar decidiu implantar o bipartidarismo (na época o Brasil tinha cinco ou seis legendas), duas delas tidas como hostis aos militares, o PSD e o PTB. Os militares eram identificados com a UDN. Um dos argumentos para justificar o fim dos partidos foi que “tinha partidos demais”

A partir de então quem quisesse fazer política na legalidade só tinha duas opões: ou se filiar a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido do Governo; ou MDB (Movimento Democrático Brasileiro), de oposição consentida. Nenhum deles recebendo qualquer tipo subsídio do Governo.

DIRETAS JÁ

Depois de 21 anos de Governo Militar, um movimento de massa – “Diretas Já” – exigindo eleição direta para Presidente da República, permitiu, mesmo de forma indireta, a eleição de Tancredo Neves (egresso do PSD) para Presidente. Tancredo eleito indiretamente adoeceu no dia da posse, e o seu Vice, José Sarney, com a morte de Tancredo, ficou com a missão de fazer a transição para a democracia, com a criação de novos partidos.

Ai, liberou geral. Os partidos foram surgindo de todos os lados. Os chamados ideológicos (comunistas, na verdade) puderam mostrar a cara, saindo de longa ilegalidade, e partidos foram se abrindo com enorme facilidade, se transformando numa forma de poder e até num bom negócio.

Para combater o flagrante exagero, a proposta de uma “regulamentação” veio do Poder Judiciário, terminando no modelo (?) que está ai, tendo como mudança principal, o fim das coligações nas eleições proporcionais, que funcionaram, durante anos, com uma gambiarra que permitia o equilíbrio daquele sistema político.

JEITINHO POTIGUAR

E o Rio Grande do Norte no meio de tanta turbulência? – Continuou vivendo a sua realidade, como se fizesse parte de uma outra galáxia. Aqui já havia um bipartidarismo de fato. Na prática, os norte-rio-grandenses se agrupavam (ou se dividiam) entre “aluizistas” e “dinartistas”, comandados por dois grandes líderes políticos e populares, Aluízio Alves e Dinarte Mariz, ambos governadores do Estado, grupos depois titulados por duas aves: bacurau (um tipo de coruja) e arara.

A ideologia do aluizismo era combater o dinartismo, e vice-versa. Ambos na mesma legenda da ARENA (“divergências no plano estadual e convergência no nacional”). Uma fórmula que funcionou muito bem até o governo federal intervir na situação estadual, em favor do dinartismo e punindo com a cassação, três membros da família Alves: Aluizio, Agnelo e Garibadi, virtualmente “expulsos” do governo pelos militares,

Isso em pleno bipartidarismo, com o MDB-RN “cabendo num fusca”. O aluzismo, agasalhado na ARENA, foi para o MDB representado por dois pós adolescentes: Henrique Eduardo e Garibaldi Filho, que mantiveram o aluzismo (que se expunha por uma bandeira verde na casa dos seus apoiadores) vivo de fato e de direito, disputando eleição com jovens candidatos que terminaram sendo os mais votados do RN.

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Nessa quadra de bons oitenta anos, no meio de todas as mudanças, as nossas eleições tinham uma lógica que conviveu com todo tipo de pesquisa (fruto da pura e simples observação, que teve José Bessa e João Bosco Fernandes, do staff do majó Theodorio Bezerra, como exemplos) à pesquisa científica criada por George Gallup, 40 anos antes, nos Estados Unidos, e trazida por Roberto Jorge Albano, em 1960, o primeiro marqueteiro (ele se autoproclamava cientista político  e certamente abominaria essa classificação) para a campanha de Aluízio Alves.

Com todas essas intempéries, mudanças de todo tipo, nas 19 eleições realizadas no Brasil, desde 1946, havia uma lógica que permitia previsões com alto índice de acerto. Sobretudo nas eleições proporcionais, muito mais complicadas.

Menos, agora, na 20ª eleição que se aproxima, por absoluta falta de lógica. A eleição pinta como uma festa tipo vale tudo só para solteiros. Até aqui as candidaturas obedeciam a uma composição, por partidos (ou coligações) vinculando de alguma maneira o voto de Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador e Governador, até Presidente da República. Com a nominata só dá para ter visão da disputa interna em duas ou três legenda.

DEUS POR TODOS

Agora é diferente. É uma luta de cada um por sí (e Deus por todos). Como não existem mais partidos, as chefias políticas parecem impotentes, elas entram no mesmo embalo, sem um mínimo de coerência nos seus apoios, deixando o eleitor mais livre e solto, não se sabendo como ele usará essa liberdade.

Até a eleição passada, pelas lideranças municipais, era possível estabelecer um prognóstico, em toda a hierarquia do voto, inclusive no proporcional.

Isso acabou e campanha que começa oficialmente nesta semana, está cheia de desafios, sobretudo na área do voto proporcional. E de emoções também. Façam seu jogo, tendo o amparo da pesquisa (a dita científica) na eleição majoritária. Mas na proporcional, nem isso.

Nas 19 eleições realizadas aqui no RN antes do pleito de outubro, era possível – com alto índice de acerto – saber como seria a composição das casas legislativas. Agora, mesmo os mais bem informados, não conseguem prever nem a metade das bancadas. Culpa da substituição dos partidos políticos pelas indefectíveis nominatas.

 

 

 

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