27 de abril de 2024
Política

ELEITORES DE SEGUNDAS INTENÇÕES

Vista de Olinda (1662) – Frans Post – Rijksmuseum/ Museu do Estado – Amsterdã, Países Baixos


Água de morro a baixo, fogo de morro a cima e urna eletrônica (quando não é
hackeada), ninguém segura.

Há três anos, o segundo turno das eleições municipais estava meio borocoxô e de repente, os institutos de pesquisas começaram a fazer as curvas de intenção de voto, com emoção.

Os dois mais ex-conceituados passaram a mostrar, nas capitais,  viradas mirabolantes e empates técnicos eletrizantes, até a boquinha da urna.

Apesar do alvoroço, os bons tempos estavam de volta.

Artistas saudosos dos palcos, entediados com tantas lives que ninguém assistia mais, desembainharam seus violões e tome loas e hinos para os candidatos queridinhos.

O isolamento social, retomado às custas do medo da segunda onda, passou a ser animado pelas disputas em lugares distantes, longe dos interesses locais já definidos na primeira volta.

A curta campanha de duas semanas não permitiu acirramentos de ânimos que pudessem atrapalhar as festas familiares de fim-de-ano,  na dupla trégua do lockdown.

Não houve tempo nem de postar reclamações sobre atrasos nas apurações, e os números já borbulhavam.

Sem frisson, a decepção era indisfarçável no semblante dos analistas políticos das bancadas de debatedores de um lado só.

Depois das declarações de praxe, vencedores, esquecidos os xingamentos e estocadas, ofereceram trégua e o espírito de unidade, em favor das cidades.

Perdedores agradeceram os apoios, já de olho nas próximas eleições e nos votos dos decepcionados do dia.

Assuntos logo esgotados.

Na etapa seguinte, as explicações abalizadas.

Procissão dos devotos das santas pesquisas.

Raciocínios baseados em resultados parciais no acompanhamento das campanhas, nunca postos em dúvida, como verdade absoluta. Mesmo depois do grande erro final.

Só faltou alguém dizer que as pesquisas estavam certas e o que avançou muito além das margens de erro, foi o TSE.

Felipe Neto, o mais festejado cientista político, queridinho da mídia,  postou que o descompasso deveu-se ao eleitor.

Sempre ele, o culpado.

Para o  maior influencer da juventude brasileira, antes do escândalo do biscoito (ou será chocolate?) Bis, quem votou na direita  teve vergonha de responder em quem pretendia votar.

Não fosse o analista tão modernoso, era de se pensar que advoga o voto a descoberto.

Ouvido pelo blog, com a garantia do anonimato, o CEO de uma empresa de sondagens de opinião e inquéritos estatísticos, com sede em Morro Branco, fez revelações inéditas.

Nossa instituição este ano deixou de publicar seus levantamentos por ter identificado um segmento da população nunca antes detectado.

Ainda sem quantitativos, há um grande número de pessoas que respondem as enquetes com o objetivo de alterar os resultados.

Os vícios só revelados na totalização oficial, sofrem forte influência dos anarco-pesquisados.”

Esses piratas declaram  o contrário do real desejo para o dia da eleição.

No Recife, quem  haveria de acertar que os eleitores do zureiúdo mijão juravam  que votariam na prima, o djabo lôro?

O certo é que ninguém consegue negar a máxima do óbvio:

Toda eleição é uma eleição.

Ou você acha que a próxima que se avizinha será diferente?

 

Paisagem com plantação: o engenho (1660) – Frans Post – Museu Boijmans Van Beuningen, Roterdã, Países Baixos

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