6 de maio de 2024
Opinião

Energia de Paulo Afonso mudou vida de todos nós

Roda Viva – Tribuna do Norte – 05/04/23

No último domingo, o nosso Rio Grande do Norte, não lembrou os 60 anos da conquista de um verdadeiro projeto estadual, sem o assunto ter merecido maiores referências: “a chegada ao Estado da energia de Paulo Afonso.”

Dificilmente, alguém, hoje, com menos de 50 anos, seria capaz de explicar que projeto e qual a sua importância para o RN e para o Nordeste: A tal energia de Paulo Afonso, que durante anos foi cantada em prosa e verso.

Sua aplicação mais conhecida, muito provavelmente, foi o verso do “hino” do candidato Aluízio Alves, na campanha de 1960, a descrição de verdadeiro plano de Governo. Aluízio comandou a festa da chegada na cidade de Santa Cruz, com a presença do Presidente da República, João Goulart, e até do general Humberto Castelo Branco, Comandante do IV Exército, que um ano depois comandou a deposição dele do governo:

– Com a energia / de Paulo Afonso / Industrialização…

UM PROJETO DE TODOS

Não que no Rio Grande do Norte de 1960 houvesse uma consciência em torno de um projeto de industrialização (ou geração de emprego). A energia de Paulo Afonso, era muito mais do que isso. Sua chegada modificaria (como mudou) diretamente, a vida de cada norte-rio-grandense, de todas as faixas etárias.

Naquele Rio Grande do Norte não existiam nem cinco cidades com serviço de energia elétrica completo, por 24 horas. Uma delas, a capital, com o serviço prestado por uma empresa de capital inglês – Companhia Força e Luz do Nordeste do Brasil – detentora de uma concessão para uma usina de geração de energia termoelétrica, que funcionava no Baldo, onde hoje fica a sede da sucessora da empresa, a Cosern/Neoenergia.

Na quase totalidade das cidades do RN, o serviço era prestado pelas próprias prefeituras, que dispunham, geralmente, de um precário grupo gerador à óleo diesel, que funcionava apenas oito horas por dia, das 6 às 24 hs, garantindo a iluminação pública e às residências.

UM SONHO ANTIGO

Desde o XVI, por ocasião do descobrimento do Brasil, os portugueses já se admiravam da força das águas do rio São Francisco. Um dos colonizadores, Pero de Magalhães Gandavo, em 1576, deixava registrado que esse rio era navegável por sessenta léguas e que, a partir daí não se podia passar, devido a uma grande cachoeira cujas águas “caiam de uma altura muito grande”.

Paulo Afonso está situada no centro geográfico de uma das regiões mais pobres dos Estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco. E que, antes da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – a localidade já tinha servido como esconderijo do bando de Lampião que se embrenhava na Furna dos Morcegos e no raso da Catarina, uma região com seus 6.400 km2 de difícil acesso e de condições bastante hostis.

Por volta de 1910, o industrial Delmiro Gouveia aproveitou a força da cachoeira de Paulo Afonso, e construiu uma usina hidrelétrica. Para tanto, encabeçou a criação de uma empresa de capital misto, juntamente com um milionário e um engenheiro norte-americanos e, como o primeiro passo, adquiriu as terras localizadas nas margens da cachoeira, do lado alagoano, incorporando-as ao domínio privado.

UMA HISTÓRIA DE SANGUE

Poucos anos depois, em 1917, enquanto lia jornal na varanda de sua casa, alguns pistoleiros matavam o pioneiro da energia elétrica no Nordeste do Brasil, e numa justa homenagem do Governo de Alagoas, décadas depois, deu a antiga localidade de Pedra o nome de Delmiro Gouveia.

O impulso para a construção da usina Paulo Afonso I foi de 1942, mediante os esforços de Apolônio Sales, Ministro da Agricultura de Getúlio Vargas, que em abril de 1944, propôs a criação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco.

Em 1949, iniciou-se a construção da usina de Paulo Afonso I. O sistema de Paulo Afonso I foi inaugurado em 1954. Nele havia somente duas máquinas geradoras, de 60.000 kW cada uma, referentes às linhas tronco Norte, para o Recife, e Sul, para Salvador, assim como as estações intermediárias de Angelim e Itaparica, compreendendo um total de 860 km de linhas de transmissão de 220 kV.

Entre os anos de 1963 e 1968, edificou-se a usina Paulo Afonso II. Na época, o complexo possuía uma potência total nominal de 615 MW. Entre 1969 e 1970, Paulo Afonso III era concluída e, em 1971, suas duas primeiras unidades começavam a funcionar. A usina Paulo Afonso IV, por sua vez, entrava em operação no ano de 1979.

RN DE FORA

“O governo de Aluízio começou, em 1961, vendo o Nordeste receber a energia da Hidrelétrica de Paulo Afonso. E qual era a exceção? – Éramos nós” – lembrava Geraldo José de Melo

Natal, por exemplo, dependia de uma empresa de capital inglês (a Força e Luz) que fornecia energia elétrica. Os municípios do interior eram iluminados por meio de motores elétricos a óleo, que eram ligados às seis da tarde. Às nove horas da noite era dada a primeira “piscada”, um aviso à população de que os candeeiros e as lamparinas deveriam ser acesos.

Sete estados nordestinos se beneficiam, atualmente, dos 310 000 kWh produzidos pelos geradores da hidrelétrica do São Francisco; cinco mil quilômetros de cabos de alta tensão cortam a região calcinada; e toda a energia produzida, encontra consumo imediato, seja no acionamento de novas e velhas indústrias, seja na melhoria das condições de vida de numerosos centros populacionais.

O RN, hoje em dia, é auto suficiente na produção de energia, que tornou-se uma grande oportunidade para o seu próprio desenvolvimento com as novas tecnologias de produção de energia renovável. Hoje são gerados aqui, 26.210 MW. O setor cresceu 12.8% sobre o ano anterior com o acréscimo de 4.065 MW de potência. A energia criada a partir do vento já representa 13.1% da matriz de eletricidade brasileira. E nas vésperas de ultrapassar uma nova fronteira. – Com o offshore; só no começo…

 

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