5 de maio de 2024
CULTURA

Explicação do inexplicável; nas pesquisas é como treino

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 120421

Por menos confiabilidade que possa ter uma pesquisa de intenção de voto, faltando mais de um ano para a eleição e sem os candidatos definidos, assim mesmo, não tem faltado a divulgação dos seus números movimentando o noticiário político e permitindo o desenvolvimento de inúmeras teses, algumas delas procurando explicar o inexplicável.

É que, muitas vezes, a contratação de tais pesquisas não tem o objetivo de antecipar o resultado, mas de fazer o antecipado lançamento de alguns dos possíveis candidatos.

Jornalista e político, Agnelo Alves sempre trabalhou com pesquisas, sobretudo nos períodos de entressafra. Para ele pesquisa era uma arma de guerra.

Assim ele resumia uma doutrina particular, sobretudo quando os números eram adversos para o seu grupo político:

– Pesquisa só se combate com outra pesquisa. Discutir os números de pesquisas dos outros é suicídio. Não vai chegar a lugar nenhum.

NOSSA HISTÓRIA

No nosso Rio Grand do Norte, pesquisa de intenção de voto tem uma história de 61 anos.

Seu introdutor foi o publicitário paulista Roberto Jorge Albano, que havia trabalhado na campanha do presidente Eisenhower, nos Estados Unidos, e havia sido contratado para fazer a campanha de Aluízio Alves para o Governo do Estado, e que tinha na sua estrutura um departamento de pesquisa para orientação da própria campanha. Alguns números vazavam para a imprensa, sem outra preocupação que não ajudar o seu candidato.

Na época, muito antes da televisão ter chegado por aqui, os resultados das campanhas eram antecipados pela figura do chefe político.

Assim, bastava o apoio de uma dessas lideranças para antecipar o resultado, com uma possível maioria. Quando a pesquisa apontava outros números, eram divulgados para se firmar na opinião do público como fonte confiável.

Registre-se que ainda não existiam institutos especializados aqui no Estado até 1965, pelo menos.

MARKETING JAPONÊS

Albano ganhou tanto respeito do eleitorado que bastava a notícia de sua contratação para ser prenúncio de vitória de quem o contratasse.

Foi o que ocorreu, aqui, em 1965. Com grande estardalhaço pelos seus partidários, Dinarte Mariz contratou Roberto Albano para coordenar a sua campanha, contra o Monsenhor Walfredo Gurgel.

Tão grande o impacto da contratação de Albano por Dinarte, que os partidários de Walfredo inventaram um marqueteiro (esse nome ainda não era usado) japonês para fazer frente ao profissional “imbatível”.

Na verdade não havia japonês nenhum e o pernambucano Caio de Souza Leão, que havia trabalhado com Albano nas campanha de Cid Sampaio e Miguel Arrais, na época ambos seus cunhados e que passou a atuar profissionalmente.

Do staff de Caio fazia parte Pedro Alencar, que havia chefiado o Departamento de Pesquisas de Abano e terminou criando o seu próprio instituto, que virou líder de mercado em todo o Nordeste. Isso antes dos marqueteiros baianos.

VIVA A DIFERENÇA

Mas, na política do RN havia uma diferença. Grande diferença com a situação presente: a existência de partidos – e lideranças – políticos..

Quando contratadas, por partidos, o objetivo das pesquisas era mostrar, entre os nomes de cada partido, quem tinha maior empatia com o eleitorado.

A última sondagem divulgada, pelo Instituto Consult, no mês passado, quem lidera para o Governo é o prefeito Álvaro Dias com 39,38% das intenções de voto.

Em seguida aparecem a governadora Fátima Bezerra com 20% e o senador Styvenson Valentim com 9,75%.

Acima da margem de erro ainda apareceu o ministro Rogério Marinho com 4,13%. Mesmo Álvaro repetindo que não será candidato.

É um retrato da falta de partidos políticos.

Como não existem partidos, consequentemente não existem candidatos dos partidos. A pesquisa reflete, muito mais, o índice de conhecimento de alguns nomes.

Começando pelo eleito em Natal, que continua dizendo não ser candidato ao Governo em nenhuma hipótese.

NÚMEROS DE SOBRA

A pesquisa da Consult ainda mostra Lula na frente de Bolsonaro (44 X 36), mesmo o capitão tendo ganho em Natal. É possível que a eleição esteja sendo posta num contexto plebiscitário.

Mas não deixa de mostrar a distância dos que se colocam como uma terceira via, como é o caso de Ciro Gomes.

Para os cientistas políticos há um enorme campo fértil a ser explorado, mas, muitas vezes a realidade é mais eloquente.

Basta ver a realidade da eleição de 2018, quando muitos eleitores de Natal conciliaram num mesmo voto a governadora Fátima Bezerra e no capitão Styvenson Valentim, atual Senador do Podemos.

Melhor seguir o ensinamento de Valdir Pereira, mestre Didi, bi-campeão do Mundo em 1958 e 1962, para a necessidade de se saber fazer a diferença:

“Jogo é jogo e treino é treino”).

A lição do grande craque, inventor da “folha seca” é de que Pesquisa é Pesquisa e Eleição é Eleição.

Sobretudo antes da definição dos atletas pelos times que vão jogar, como acontece no momento com boa parte dos futuros candidatos que ainda não definiram seus partidos.

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