2 de maio de 2024
Opinião

Feliz dia da Mulher exausta!

Por Celli Castim, advogada

Eu cansei…

E quando digo que cansei é no sentido literal. Estou esgotada!

Mas não vou ser mal educada. Portanto, receberei de coração todas as felicitações pelo dia de hoje, que me parabenizam por ser uma mulher guerreira, forte, batalhadora, multitarefa, etc, etc, etc.

Obrigada!

Aliás, obrigada também no sentido literal.

Como mulher sou obrigada a dar conta de tudo. Tenho que dar o melhor no trabalho, gerenciar o lar, atender as demandas dos filhos, dar atenção suficiente ao marido, ajudar a família e cumprir todas as demais tarefas que aparecem. Como boa guerreira tenho obrigação de matar um leão por dia.

E quantas vezes recebi orgulhosa o título de mulher maravilha?

Quer saber?

Nesse oito de março, da Mulher Maravilha eu queria só aquele avião invisível. Viajaria para bem longe, com destino a um lugar em que pudesse ser apenas humana e portanto falível.

Foi assim, no malabarismo insano para tentar ser competente, linda, magra, disponível e multitarefa, que comecei a flertar com o tal Burnout.

O diagnóstico definitivo veio depois de uma crise de pânico associada a um pré infarto.

Literalmente cansei…

Mal consigo me levantar da cama, sinto dores muito fortes em vários pontos do corpo, engordei horrores, minhas taxas estão altas, ando triste e sem ânimo, choro sem razão e já não sei mais onde está meu natural entusiasmo pela vida.
Nesse mundo de mulheres teoricamente invencíveis, demorei a entender que estava adoecendo e precisava de ajuda.

Vai passar, eu sei que vai…

O lado bom é que tenho aprendido muito nessa convivência diária com minha vulnerabilidade.

Quero ter mais tempo e menos dinheiro, quero jogar conversa fora com as amigas, quero pisar na terra, cheirar mato, mergulhar no mar, ler meus livros sem pressa.

Quero sexo, prazer e descanso. Quero o aconchego do abraço de quem amo. Quero fazer uma coisa de cada vez, no meu ritmo.

Então, nesse dia 08 de março, feliz dia da mulher exausta!

Se você também está cansada de tudo isso, não se permita adoecer. Deixe cair a capa vermelha que lhe cobre os ombros doloridos.

Vista-se de você, respeite seus limites, dê sempre o seu melhor, mas faça apenas o que lhe for possível.

Seja, enfim, apenas o que sua alma pede.

DO TL 

Conheci Celimari, quando ela ainda não era Castim, no curso de Direito.Faz mais de 20 anos. 

Sempre foi muito mais que um corpo escultural, que desfilava pelos corredores da Faculdade. Era atitude no andar, agir, questionar. 

Não sabia do seu esgotamento. Não seu, mas de tantas nós. 

Hoje, além de tudo isso,  Celi Castim tem um lido trabalho chamado Clube do Livro. Ela reúne mulheres que gostam de ler, escrever, pensar. Algo inimaginável durante séculos.

Hoje, Celi Maravilha para mim é maior e mais bonita. Por reconhecer sua exaustão. Sua, não. De todas nós… 

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