3 de maio de 2024
Comportamento

UM GORRO PELA PAZ

A Anatomia do Dr. Willem Roell (1910) – BF Landis – Wellcome Library, Londres.


Onde houver um hospital, nas suas mais recônditas e protegidas dependências, nas salas de cirurgia, o acesso exige vestimentas especiais.

Sempre foi assim.

Desde que os primeiros procedimentos  de assepsia passaram a ser acreditados.

Vestuário igual para todos.

No trabalho multidisciplinar, em equipe, cada um com sua função e a importância do cargo, desvinculada do traje.

Hierarquia preservada, provando que o hábito faz monges iguais.                                            

Insurge um movimento mundial para a customização dos gorros cirúrgicos.

Tudo começou com um anestesista na Austrália que iniciou a peleja, para através das toucas cirúrgicas,  identificar facilmente quem são os integrantes dos times, que sempre mudam de escalação em toda cancha em que jogam.

E nem todos têm rostos conhecidos.

Mesmo  quem se acha  o Gabigol do bisturi.

Ou, empunhando o  laringoscópio, um Ítalo Ferreira.

O gasista aussie argumentava que  em casos de emergência, a imediata identificação de quem deve ser acionado, ganharia segundos salvadores.

E mais  vidas preservadas.

Tudo que pedia era  um pouco mais  do que os crachás já dão.

A justificativa, desvirtuada, passou a servir para  marcar grupos e discriminar pessoas.

Agora,  vale qualquer e todo critério para a dessemelhança.

Senadora Damares à parte, as meninas do bloco (cirúrgico) escolheram o rosa pra adornar as cabeças.

Apareceram outras enfeitadas.

De oncinha, e nas cores do arco-íris.

Pediatras interagem, vestindo personagens dos desenhos.

Daí, para outros subgrupos foi sem limites.

As revelações das preferências subiram às cabeças.

Das cores e escudos dos time de futebol, aos símbolos dos vários sexos e tendências políticas.

Motivo para os que se acham escolhidos pelos deuses se destacarem dos reles mortais.                                         

E pra que fique bem claro: os neurocirurgiões se escolhem.

Na terra brasilis, onde tudo permanece dividido, antes que a polarização precise da ONU para mediar o conflito, é melhor que voltem os gorros brancos.

Da paz.

A anatomia do Dr. Frederick Ruysch (1910) – BF Landis – Wellcome Library, Londres

(Tema abordado originalmente neste TL, em 01/03/2020)

 

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