2 de maio de 2024
Coronavírus

FOCO NA CIÊNCIA

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                       Rembrandt, 1606-1669


Médicos sempre guardaram quarentena, mesmo que nem percebam.

Acompanhando a complexidade e os conhecimentos que aumentam na velocidade de uma pandemia, cada vez mais, por mais tempo.

6 anos. Outros tantos do curso de graduação.

O período de formação técnica e humanística é marcante. Inesquecível.

A Residência Médica ninguém esquece.

O isolamento da família.

O tempo de incertezas no futuro. Como será depois?

Os planos adiados.

A vida em segundo plano.

Aos bravos médicos residentes destes tempo terríveis, a esperança que tudo isso vai passar.

Vocês serão melhores.


(Publicação original em 14/05/2020)

           

             MATÉRIA CONHECIDA

A residência médica permite aos recém-formados, a prática, sob tutela dos mais  experientes, dos conhecimentos amealhados nos seis anos da faculdade.

De acesso restrito a poucos, cada vaga é tão disputada que quem a conquista muito mais que vitorioso, sente-se, simplesmente, o máximo.

Até começar o estágio.

Além da liturgia própria e rígido código de comportamento, há uma hierarquia a ser respeitada.

Nas especialidades cirúrgicas, sempre muita disputa pra ver quem  opera mais.

Tarefas distribuídas. As penosas e menos importantes, reservadas aos mais modernos.

Cirurgia completa, de pele-a-pele só para os veteranos.

Aquele R1 (residente calouro), o burro de carga do serviço, reclamava pelos quatro cantos, as poucas oportunidades que tinha de desenvolver suas habilidades.

Quando escalado para o centro cirúrgico era para instrumentar ou então como segundo auxiliar.

Cansou de dar pontos na pele, a maior responsabilidade a ele atribuída.

Já na enfermaria, era dele todo o serviço.  Prescrições, evoluções e a entediante burocracia.

Além do encargo de  fazer os curativos – tarefa que considerava ser da enfermagem – e descrevê-los em minúcias nas visitas da equipe à beira do leito.

Aquele paciente não vinha evoluindo bem. Curativo sempre sujo, tendo de ser trocado com  frequência.

O chefe, resistente em admitir insucessos nas suas intervenções, afirmou que toda aquela secreção escura e mal cheirosa era serosidade.

Coisa normal que logo se resolveria.

Foi aí que o mais jejuno do grupo criou coragem, discordou da autoridade máxima e fez seu próprio diagnóstico.

Para ele, o paciente havia desenvolvido uma fistula intestinal que drenava,  cada vez mais, fezes.

E encerrou o caso com uma observação incontestável:

-Isto é merda. E merda eu conheço bem.

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