6 de maio de 2024
Coronavírus

FUTURO DO PRESENTE

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Encontrar no passado as respostas para o que estamos vivendo, certos que a História se repete,  é o atalho mais curto para se acreditar que os piores dias estão por acabar.

Nos relatos das grandes epidemias,  nas tragédias quase esquecidas, está o refúgio e a saída para as angústias atuais.

O que se pode obter neste material pesquisado são retratos instantâneos do então desconhecido.

Fotos esmaecidas e manchadas pelo tempo.

Textos em linguagem arcaica. E as mesmas emoções que os anos não conseguem esgarçar.          

Quando tudo que se tinha de fazer era esperar a morte chegar.

E enquanto ela não vinha, rezar.                                      

Registros dos corpos sem vida, depositados nas calçadas para serem recolhidos.

Os números dos 100 anos passado são apresentados sem qualquer possibilidade de serem próximos dos exatos e reais.

Não havia quem os coletasse.

Os coveiros perdiam as contas, nos enterros em valas comuns.

Esta história é a estória que nos chega dos sobreviventes. Contadas por eles mesmos.

As vítimas deixaram poucos registros, o que sabemos são testemunhos repassados a filhos e netos

O flagelo surge do nada.

Invasor dissimulado, sorrateiro, mutante.

Será que os do  futuro aprenderão alguma coisa com os dramas pessoais dos antepassados dos séculos XX  e 2K21?

Os arqueólogos digitais  de 2120 terão muito o que escavar nas nuvens. Encontrarão dificuldades para entender as agruras dos antepassados.

Para eles, inacreditável que tenhamos demorado tanto para erradicar um vírus tão banal.

Entenderão a gravação deixada pelo advogado carioca,  um dos primeiros acometidos na grande pandemia, isolado num quarto fechado de um hospital de luxo?

Seguindo o que devia ser feito, diabético e obeso, ao perceber que sua tosse estava mais constante e a febre persistente, procurou o melhor hospital do bairro de classe média alta do Rio de Janeiro.

Deixado, conforme tocante depoimento gravado, numa jaula onde os cuidadores, temendo a contaminação,  não ousavam entrar.                    

Por dois dias não teve direito a nenhum cuidado de higiene pessoal. Nem ao que nunca negou ao seu cãozinho de estimação. Um lugar  apropriado para as necessidades fisiológicas.

Cansado de clamar por ajuda, registrou sua agonia em áudio.

Dois dias depois, seus familiares registraram em boletim de ocorrência mais uma morte atribuída ao coronavírus.

E ao vírus do medo.

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