3 de maio de 2024
Letras

GÊNIOS DE PERNAMBUCO


Para não humilhar o aprendiz de cronista, a corrigenda ao texto
Salve Ariano! não veio na forma de comentário no blog.

O atento amigo-leitor esperou uma oportunidade para fazê-la ao vivo.

Poeta, versado na pernambucália, conhecedor das curvas e recônditos do Capibaribe, emendou o cordial  e inevitável bom-dia, no cruzamento das caminhadas, com a afirmação convicta.

O gênio de Apipucos é outro.

Antes que algum conterrâneo da Filipeia de Nossa Senhora das Neves apresente o batistério provando que o romanceiro de Taperoá veio ao mundo dos mortais no Palácio da Redenção, endereço provisório da família do Presidente do Estado, é tempo da necessária errata.

Para quem é de onde se cultua uma solitária lenda intelectual, não é difícil explicar o equívoco.

É como  se além de Câmara Cascudo, o oráculo da Junqueira Ayres, no alto da cidade, limites da Ribeira, tivéssemos a ventura de uma outra unanimidade habitando as lonjuras do Tirol.

Recife  cuidou bem dos dois expoentes do pensamento e da literatura. E os manteve perto um do outro.

Cada um no seu reino e dono dos seus domínios.

Em Apipucos, Gilberto Freyre foi o senhor da casa grande.

À légua e meia, no Poço da Panela, enclave de Casa Forte, o casarão de engenho de Ariano.

Lembranças que afloraram na pandemia, como tábuas de salvação em águas revoltas de um rio em cheia, levando, pra onde ninguém sabia, sonhos, planos e estórias.

Falta que fizeram e fazem.

Alguém para mostrar como e porque havíamos chegado aos dias de incertezas, conflitos e divisões.

Outro, arauto mambembe, para contar, com perspicácia,  a fábula  dos poderosos e seus ridículos e podres poderes.

A terra quase arrasada,  cenário de uma aventura  trágica de enredo previsível, sem fio condutor e carente de heróis.

Um povo sem rumo.

Nos livros e nas ideias dos que entendiam e retrataram, com maestria, a alma da gente, brotou a esperança de saída e salvação.

As melhores qualidades e forças, roídas nas entranhas pelos parasitas do extremismo insano, revelavam como somos vulneráveis.

Esquecida, a democracia racial brasileira continua enfrentando semeadores de cotas e colhedores de ódios.

Um país que perdeu a capacidade de rir das próprias mazelas e contradições, vai ficando também sem brio, inteligência e identidade.

O legado dos vizinhos maurícios não foi esquecido no rescaldo dos escombros da catástrofe que atingiu todos os povos.

E os deixaram mais iguais.

Sem distinguir origens, posses nem saberes, um microscópico ser provou que somos idênticos. univitelinos.

Tudo que Gilberto Freyre e Ariano Suassuna nao param de  dizer em suas obras imortais.

 


(Publicado em 01/01/12021, no auge da Pandemia, o texto continua atual)

  

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *