GÊNIOS DE PERNAMBUCO
Para não humilhar o aprendiz de cronista, a corrigenda ao texto Salve Ariano! não veio na forma de comentário no blog.
O atento amigo-leitor esperou uma oportunidade para fazê-la ao vivo.
Poeta, versado na pernambucália, conhecedor das curvas e recônditos do Capibaribe, emendou o cordial e inevitável bom-dia, no cruzamento das caminhadas, com a afirmação convicta.
– O gênio de Apipucos é outro.
Antes que algum conterrâneo da Filipeia de Nossa Senhora das Neves apresente o batistério provando que o romanceiro de Taperoá veio ao mundo dos mortais no Palácio da Redenção, endereço provisório da família do Presidente do Estado, é tempo da necessária errata.
Para quem é de onde se cultua uma solitária lenda intelectual, não é difícil explicar o equívoco.
É como se além de Câmara Cascudo, o oráculo da Junqueira Ayres, no alto da cidade, limites da Ribeira, tivéssemos a ventura de uma outra unanimidade habitando as lonjuras do Tirol.
Recife cuidou bem dos dois expoentes do pensamento e da literatura. E os manteve perto um do outro.
Cada um no seu reino e dono dos seus domínios.
Em Apipucos, Gilberto Freyre foi o senhor da casa grande.
À légua e meia, no Poço da Panela, enclave de Casa Forte, o casarão de engenho de Ariano.
Lembranças que afloraram na pandemia, como tábuas de salvação em águas revoltas de um rio em cheia, levando, pra onde ninguém sabia, sonhos, planos e estórias.
Falta que fizeram e fazem.
Alguém para mostrar como e porque havíamos chegado aos dias de incertezas, conflitos e divisões.
Outro, arauto mambembe, para contar, com perspicácia, a fábula dos poderosos e seus ridículos e podres poderes.
A terra quase arrasada, cenário de uma aventura trágica de enredo previsível, sem fio condutor e carente de heróis.
Um povo sem rumo.
Nos livros e nas ideias dos que entendiam e retrataram, com maestria, a alma da gente, brotou a esperança de saída e salvação.
As melhores qualidades e forças, roídas nas entranhas pelos parasitas do extremismo insano, revelavam como somos vulneráveis.
Esquecida, a democracia racial brasileira continua enfrentando semeadores de cotas e colhedores de ódios.
Um país que perdeu a capacidade de rir das próprias mazelas e contradições, vai ficando também sem brio, inteligência e identidade.
O legado dos vizinhos maurícios não foi esquecido no rescaldo dos escombros da catástrofe que atingiu todos os povos.
E os deixaram mais iguais.
Sem distinguir origens, posses nem saberes, um microscópico ser provou que somos idênticos. univitelinos.
Tudo que Gilberto Freyre e Ariano Suassuna nao param de dizer em suas obras imortais.
(Publicado em 01/01/12021, no auge da Pandemia, o texto continua atual)