GENTE BACANA
Quando a capital foi transferida, ficaram no Rio de Janeiro, as mais importantes repartições públicas.
E a cultura do jeitinho e do funcionário-barnabé que resolve por fora, engordada desde a época dos governadores gerais.
Não poderia haver berço mais adequado para o surgimento de esquemas, mensalões, petrolões, desvios dos ouros da copa e das olimpíadas, rachadinhas e tudo o mais que possa encher os bolsos de políticos espertos, empresários audaciosos, juízes venais e executivos globalizados.
O poder de contaminação da cepa carioca do vírus da corrupção é impressionante.
Parece parte da estrutura celular de todos.
Até dos outsiders que prometeram a nova política.
Que são espertos, nem precisava ser dito pela canção.
Nascem craques.
Sabem, como poucos, botar nomes nas coisas.
Ao batizar o esquema secreto dos partidos, o deputado de nervos de aço escolheu a palavra certa que resumia tudo.
São diretos
Uma bolada, coisa grande, poderosa, repetida.
Explicou depois que não havia periodicidade mas isso não fez a menor diferença.
Mensalão.
Quando pegou muita gente.
Já tinha pegado.
Não foi necessário dar o nome dos bois. Só identificou as boiadas que depois, ficou-se sabendo, era todo o rebanho.
De poucas novilhas e muitas vacas.
Todas profanas.
A história inteira foi contada aos poucos, por conterrâneo importado que interceptou o making of.
Dito pelo caçador depois caçado, conversas que se tem em círculo de intimidade. Quando se fica à vontade para falar besteira, bobagem, e ser até de certo modo, irresponsável.
Refresco na pimenta dos outros.
São sacanas.
Prática comum em todas as casas legislativas desde o Império, o pedágio cobrado aos assessores, nunca foi consenso jurídico.
Crime, peculato, concussão, para alguns. Outros, improbidade.
Até quem considere só desvio moral, a negociação entre particulares.
Para quem já nasce bamba, e leva a vida com alegria, uma coisa pequena, escondida, reservada, íntima, para dois, não poderia ter rótulo melhor.
Rachadinha.
N. do A.
O texto publicado em 13/09/2019 pode conter ‘fakenews’, desde que as estripulias dos políticos passaram a ser canceladas na justiça dos homens. Mas não dá para esquecê-las)
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Assista:
Adriana Calcanhotto – Cariocas