1 de maio de 2024
Luto

Geraldo Melo e o sindicalista

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Tancredo Neves, Geraldo Melo e Ullysses Guimarães


Com a redemocratização, os médicos foram a última categoria a surfar a onda das greves.

No início dos anos 90, os consultórios e pacientes particulares representavam mais de 70% dos ganhos.

O emprego público era acessório, encarado por muitos como um bico. Um favor que se fazia em retribuição ao ensino gratuito recebido.

O governo pagava pouco e o doutor trabalhava menos ainda.

Estabelecia sua própria jornada, havendo um entendimento das chefias: pior sem ele.

Mesmo assim,  começaram as greves de médicos.

Novidade tão inusitada que virou  manchetes dos jornais.

O mais difícil era a participação dos colegas nas manifestações.

Sempre ocupados com a atividade privada, não sobrava muito tempo para gritar  palavras de ordem

Com a  inflação descontrolada dos anos Sarney  e inéditas cobranças das cargas horárias, a inauguração do Hemonorte era oportunidade imperdível para mostrar insatisfação e reinvidicar melhores condições de trabalho.

A presença do Ministro da Saúde, o cirurgião  Seigo Tsuzuki garantia os holofotes.

Apesar de toda a mobilização, o time dos manifestantes estava tão desfalcado que a diretoria teve,  ela própria, que carregar as faixas.

Era presidente do Sindicato, o Dr. Francisco Teixeira, recentemente falecido, vizinho de praia da diretora do novo serviço, a Dra. Linete Rocha, a primeira a abordar a dupla de subversivos da ordem do cerimonial, pedindo que o protesto parasse em nome da amizade e  com autoridade de ex-professora.

Foi quando chegou a comitiva do Governador Geraldo Melo, que não se fez de rogado, nem de mouco.

Partiu para o enfrentamento, mas  ouviu do redator desta nota, dirigente de curta carreira sindical,  a informação que os salários dos médicos precisariam também de um abono, como pago a  vários outros servidores, para alcançar o piso do salário mínimo.

Na eleição seguinte,  o diálogo patrão-empregado virou meme no horário eleitoral gratuito.

No Governo Geraldo Melo foi implantado o Sistema Único de Saúde, com  os médicos passando a receber 10 salários mínimos por 20 horas semanais.

A conquista salarial durou pouco.

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