HENRIQUE, A VOZ DO POVO
Os juristas descobriram, já faz um bom tempo. Há como definir um padrão de comportamento humano.
Pelo menos, na corrente de pensamento dominante na cultura popular e presente na mídia.
O que a maioria faz e pensa, existe como unidade de normalidade na comparação com os indivíduos que se distanciam do comum, do esperado.
Agora este conceito consolidado na jurisprudência é aplicado com êxito na comunicação de massa.
A emissora pernambucana, afiliada da maior rede brasileira de TV, descobriu a fórmula de como precisar com exatidão, a reação dos seus espectadores aos problemas do dia a dia.
Basta ouvir quem sabe expressar em poucas palavras, os sentimentos de tantos que não têm vez. Nem voz.
O homem médio existe.
O nome dele é Henrique.
Está sempre por perto, disponível para um testemunho que dê mais credibilidade e toque popular, à reportagem do cotidiano.
O ônibus atrasou, o cartão de crédito estourou, tem pergunta no alô doutor, não pegaram (mas viram) o ladrão, tem protesto, contra qualquer coisa?
Chamem o Henrique. Ele sabe das coisas.
Até como temperar um peru para as festas de fim de ano.
E só precisa de dez segundos para dizer o que qualquer mortal diria. E tudo o mais que o repórter gostaria de ouvir.
Privando de certa intimidade com os jornalistas, conhece todos eles. A recíproca, parece, não é mentirosa.
Alguns já o escolhem para o depoimento, chamando pelo nome, entre tanta gente, numa pequena multidão de anônimos.
O sorteado concatena as ideias, sintetiza com precisão e, como se tivesse treinado a sessão de perguntas e respostas, reforça o que as imagens já mostraram.
Suas intervenções mais conhecidas viralizaram na rede.
Um pot-pourri com seus melhores momentos é meme.
Não se sabe se suas roupas são escolhidas pelos figurinistas da emissora. Estão sempre adequadas à temática abordada.
Resta uma dúvida, levantada nas discussões das redes social.
Se o personagem realmente existe. Ou é dramaturgia. Ficção, baseada em pessoas reais
Se o nome que aparece nos créditos, Henrique Filho, sem sobrenome, é artístico, ninguém sabe.
Houve até quem jurasse, com o aval de um primo recentemente demitido pela empresa, que trata-se de funcionário devidamente contratado, com carteira assinada e tudo.
Se verdadeira a informação privilegiada, seu exemplo pode virar tendência no moderno, vibrante e competitivo jornalismo provinciano.
Estaríamos diante de uma nova ocupação, mais uma fonte de renda e um novo ofício, a ser regulamentado.
Entrevistado profissional.