HOMEM SEM H
Para comprar cigarros, pelo menor no bar anexo ao snooker, era preciso caprichar na pronúncia.
Continental e Astória, tudo bem.
Até Minister era vendido sem nenhum problema.
Mas se algum desavisado, fissurado no vice-campeão de vendas (o Continental era imbatível), pedisse com pronúncia hollywoodiana, corria o risco de ficar no fumo-de-rolo.
Pior, quando a Souza Cruz lançou seu mais sofisticado produto, visando um público de maior poder aquisitivo, fez muita propaganda e barulho.
Mais que um cigarro, um estilo de vida.
Apesar de todos os cartazes com fotos de homens de smoking, beldades de longos e dos displays cheios da novidade, ali só comprava quem esquecesse o ‘h aspirado’.
Como em Portugal, onde o esporte é andebol e o paraíso tropical, Baamas, naquele salão de bilhar, a classe e a suavidade anunciadas eram vendidas só a quem pronunciasse Ílton.
Aos insistentes a explicação do dono, o Seu Helano:
– Por acaso, meu nome é Relano?
* Lee Jeffries, fotógrafo nascido em Bolton, em 1971, tem reconhecimento internacional por seus retratos de tipos populares nas ruas do Reino Unido.
(Publicação original em 24/06/2019)