HOMENAGEM PÓSTUMA
Quando a pandemia passar, ou quando ficar mais mansa, análises de tudo que tem ocorrido serão incontáveis.
Ainda antes, mudanças de comportamento já são notadas.
Desde que os lockdowns e seus arremedos foram decretados, nossos vigilantes legisladores, no ritmo preguiçoso do home office, perderam produtividade e capacidade criativa.
Nunca mais tivemos uma semi-celebridade agraciada com títulos de cidadania e nenhum outro regabofe foi incluído no cardápio do patrimônio imaterial da nossa cultura papa-jerimum.
Haverá tempo.
Quem sabe, algum correligionário não lembra o pensamento do líder e faz a homenagem?
Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus. Porque esse monstro está permitindo que os cegos enxerguem, que os cegos comecem a enxergar, que apenas o estado é capaz de dar solução a determinadas crises.
(Publicação original em 28/05/2019)
CALDO CULTURAL
A primeira lista surgiu em 1997.
Desde então, a Unesco passou a divulgar róis (é assim mesmo, o plural de rol) de expressões culturais de povos do mundo todo. Patrimônios Imateriais.
Preservar tradições, reconhecer e ressaltar aspectos peculiares de uma região. É o sentido da honraria.
Há critérios e comitês para a escolha que acontece a cada dois anos. Muitos são candidatos e só trinta eleitos, por vez.
São músicas, festas, celebrações, vestimentas. Os costumes e as comidas também entram na dança.
Com a chance de mostrar realizações, sem burocracia, verbas, ou esforços, gastando só a Bic, governos locais passaram também, por decreto, a declarar patrimônio intangível, qualquer coisa que se possa imaginar. Ou tanger. Aí vale quase tudo. Até o etéreo que logo vai virar matéria.
Orgânica.
Nada contra a ginga-com-tapioca, inspiração de Dona Dalila nos anos 50. Ninguém contesta. É tradição da Redinha que vem sendo preservada por seus descendentes e seguidores.
Mas depois que uma deputada, de olho gordo nos votos do Vale do Ceará-Mirim, apresentou proposta para elevar ao mesmo patamar, o caldo de cana, sinto-me à vontade para acrescentar mais um item ao indigesto cardápio.
Sonrisal.
De preferência, um antes; outro depois.