4 de maio de 2024
Memória

IM MEMORIAM DE ARRUDA FIALHO

2FD0D91A-F2F2-4C35-9421-45A789A19A47

PISADA DE REDE

Vi às telas tantas que o escritor e editor Carlos Fialho, surpreso com a revelação que é filho de ator da peça que inaugurou o Teatro Sandoval Wanderlei, está pensando em escrever ‘Coisas que sei de meu pai.’

Ainda está em dúvida se biografa ou inicia um thread.

Entre o casamento e a compra da bicicleta, recordo nossa fase cooperativista.

Do futuro perfilado e da não solicitada fonte de pesquisa.

De gerações diferentes, em comum, o sobrenome e a profissão.

Nos encontramos no IPE.

Ele, coronel-comandante-dos-serviços-de-saúde. Eu, recruta, logo promovido a chefe-do-turno-intermediário. Ambos com a autoridade que um cabo de polícia pensa que tem.

Nos reencontramos na diretoria colegiada da cooperativa de trabalho médico.

Ele, fundador e presidente. Eu, experiente grevista, indicado pelo sindicalismo de resultados e futuro presidente.

A primeira ação foi convocar colegas para votar em eleição de chapa única. Explicar que não éramos da mesma família. E como dizem os Bozo,  não havia nepotismo nem súmula vinculante 13.

Se existia parentesco nos nossos Arruda, era lá por detrás da serra. De Portalegre.

Trabalho quase voluntário, quase remunerado, algumas quase mordomias. E muitas viagens.

Como estratégia para a garantia do quórum mínimo, reuniões semanais marcadas ao fim do horário dos consultórios.

Na boquinha da noite. Para sobrar mais tempo para o jantar coletivo. Sempre precedido por algumas doses do ‘joão andarilho’  8 anos e sucedido por 43 de cointreau.

Pauta extensa e cardápio pantagruélico, eram motivos de reclamações domésticas. Confessadas por um único comensal. Aquele com extensa folha corrida de manicaca.

Após um desses estafantes serões, a porta do quarto, emperrada, não abriu. Uma rede, bem dobrada, esquecida de propósito no sopé, foi a salvação do sono reparador. No escritório.

Como esses segredos não tem quem guarde, o episódio virou desculpa e senha para a hora de encerramento dos convescotes.

Pra ninguém pisar na rede.

Garçom, a conta!

***

(Texto publicado em 6/8/2019)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *