Jornal de SP rebate deputado Albert Dickson: novas cepas de Covid-19 NÃO atacam mais o fígado
A matéria está no Estadão verifica. Uma sessão do jornal que faz checagem de informações científicas acerca de notícias divulgadas sobre a Covid-9.
E começa assim..
Não há evidências que variantes do novo coronavírus ataquem diretamente e de forma mais acentuada o fígado de pacientes, diferentemente do que afirma o oftalmologista e deputado estadual do Rio Grande do Norte Albert Dickson (PROS) em vídeo viral nas redes sociais.
O político diz, sem qualquer embasamento científico, que novas cepas podem causar hepatite. Ele defende o protocolo de “tratamento precoce” da covid-19, composto de remédios sem segurança e eficácia comprovada para combater a doença.
A distribuição indiscriminada do chamado “kit covid” já levou ao menos cinco pacientes para a fila de transplante de fígado em São Paulo, e tem sido apontado como causa de mortes porhepatite medicamentosa.
Especialistas consultados pelo Estadão contestam os apontamentos do parlamentar e reafirmam que o uso excessivo desses medicamentos pode causar danos à saúde.
Em entrevista a um canal de YouTube, Dickson disse que novas cepas causam sintomas diferentes da covid-19 e atingem principalmente o fígado.
O vídeo foi replicado por outros políticos que defendem o tratamento precoce e alcançou mais de dez mil compartilhamentos no Facebook.
De acordo com o médico infectologista e livre docente pela Universidade de São Paulo (USP) Roberto Focaccia, cientistas já observam que a covid-19 pode causar danos ao fígado desde o início da pandemia e isso independe das mutações.
Um estudo com pacientes admitidos em hospitais em Nova York durante o mês de março de 2020 já indicava anormalidades nas enzimas hepáticas de pacientes hospitalizados com a doença.
A gravidade e as características de novas cepas como a de Manaus, também conhecida como P1, ainda não foram detalhadas com clareza, segundo Focaccia.
Já o médico hepatologista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Raymundo Paraná aponta que cerca de 20 a 40% dos pacientes hospitalizados por covid-19 apresentam alterações no fígado.
Ele destaca que, até o momento, não há evidências na literatura científica de que novas cepas têm uma ação mais contundente sobre esse órgão específico.
O docente também contesta um trecho em que Dickson afirma que “antigamente, a cepa primeiro atingia os rins” e agora “atinge primeiro o fígado”.
De acordo com Paraná, não há qualquer indicação de que as novas mutações do SARS-CoV-2 sejam menos agressivas aos rins.
“Ao contrário, o que se observa atualmente é um número aumentado de pacientes que requerem hemodiálise durante a internação”, pontua.
NOVOS SINTOMAS ?
O deputado estadual Albert Dickson diz ainda no vídeo que uma outra característica da nova variante é apresentar, principalmente, três sintomas iniciais: dor de cabeça, “garganta arranhando” e espirros. “Antigamente era perda de paladar, olfato, febre, tosse e dor no corpo, não é mesmo?
Pode até ser que tenha, mas o principal (sintoma causado pelas variantes) é garganta arranhando”, diz o médico e parlamentar.
O médico infectologista Roberto Focaccia reforça que as variante do SARS-CoV-2 ainda não foram completamente caracterizadas e ressalta que os sintomas iniciais da covid-19 podem ser variados.
Segundo ele, a forma mais comum é o desconforto respiratório, febre e dor no corpo, mas também há casos em que o primeiro sintoma pode ser uma diarreia ou uma forte dor de cabeça.