2 de maio de 2024
Medicina

MÉDICOS SEMINOVOS

O tanque (1592) – Jacopo Palma, o jovem – Coleção Molinari Pradelli, Castenaso, Itália


Nas primeiras turmas nos cursos de Medicina,  muitos já haviam concluído algum outro na mesma área.

Farmacêuticos e dentistas aproveitaram créditos das disciplinas comuns e seguiram em frente no currículo mais extenso.

A profissão médica sempre teve  vários atrativos, sendo dispensável lembrar a ascensão social e o prestígio que ainda resiste aos cassadores  de pronomes de tratamento.

Tem doutorado, nem que seja com tese fajuta ou  plagiada?

No tempo de faculdades exclusivamente públicas, o funil de boca estreita para admissão, fez muitos desistirem.                          

Outros nem ousaram tentar e procuraram novos caminhos que os levaram mais facilmente aos pós-docs.

Há cinquenta anos, os rapazes que concluíam o curso ginasial (primeiro grau) e eram encaminhados para o único colégio religioso que oferecia o científico (segundo grau), tinham que fazer uma escolha.

Aos 14 anos, era preciso definir logo a profissão, nas duas únicas oferecidas e que importavam: Engenharia ou Medicina.

Por exclusão, quem não gostava de Matemática nem de Biologia e matérias correlatas, Física e Química, ou de muito estudo, se transferiam para o Clássico.

Exclusivo da rede pública e tendo o Atheneu como ícone.

O curso médico continuou o mais procurado.

Campeão absoluto na disputa cujo placar é medido pela relação candidato/vaga.

Mesmo depois do boom da carreira jurídica com seus invejados salários, auxílios mis, verbas indenizatórias e outros penduricalhos.

Quando apareceram as primeiras escolas privadas, o acesso facilitado só para quem pudesse pagar as mais altas mensalidades de todo o sistema educacional, era a porta entreaberta.

Sacrifícios das finanças familiares, empréstimos e FIES a serem compensados pelo zero desemprego que  esperava os recém-formados.

Agora, um novo fenômeno é observado com  porteiras escancaradas.                                  

De consequências  imprevisíveis.

A multiplicação das  escolas médicas – no RN, por oito – e a possibilidade ainda mais em conta nos países vizinhos, tem atraído pessoas de faixas etárias muito mais avançadas que os adolescentes no século passado.

Como será esta nova geração de médicos é a incógnita.

Advogados, comerciantes, funcionários públicos, aposentados, jornalistas.

Pessoas que levam de volta aos bancos escolares, laboratórios e hospitais-escola, experiência acumulada e a maturidade de ter escolhido a segunda e definitiva profissão por convicção.

Estão cientes que a remuneração que vão encontrar depois do longo treinamento, somado com pós-graduações e residências médicas, tende a diminuir.                       

menos que a lei da oferta e da procura seja revogada.

Discussão da qualidade do ensino à parte, como  no público e gratuito, no privado  há abundantes oportunidades de melhorias, em ambos os novos  esculápios vão atuar em mercado mais concorrido.

Quem estudou Darwin mais a fundo, levará vantagem.

Depois que todos os espaços ainda vagos forem preenchidos, entre todos auto-convidados, poucos serão os escolhidos para a ceia larga.

Muitos ficarão nos exames pós colação de grau que haverão de ser exigidos. Estes, vão acrescentar  ao duplo título de bacharel, o de concurseiro.

Na pós-pandemia ou na pandemia estendida, os melhores postos de trabalho serão disputados com máquinas e tecnologias que se mostram mais eficazes e econômicas que os especialistas de ontem.

Além dos empresários empreendedores, sobrarão aqueles  que jurarem e cumprirem os ensinamentos de Apolo, Esculápio, Hígia, Panaceia e Hipócrates.

Conservarei imaculada minha vida e minha arte.”

Jesus curando o paralítico no tanque de Betesda (1670) – Murillo – Galeria Nacional, Londres

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