2 de maio de 2024
Política

MEU DESCONDENADO FAVORITO

Eduardo Cunha na sessão em que a Câmara dos Deputados aprovou o impeachment de Dilma Rousseff, em 17 de abril de 2016. Foto: Ueslei Marcelino, para a Agência Reuters


Há dois anos, quem concluiu a maratona e chegou ao fim das 1300 páginas eletrônicas do livro de
Eduardo Cunha,  entendeu a anulação pelo STF, de sua condenação a 16 anos de prisão na Lava Jato.

A última frase justifica a versão dos fatos relatados.

Ninguém é dono da verdade.

Para reservar a posição que ocupará no episódio e merecido destaque, quando a história do início do século XXI for contada sem filtros, o ex-deputado foi longe.

Começou na Proclamação da República, e seguiu em relatos de como ocorreram as mudanças do comando político, com mais densidade,  a partir da sua estreia no jogo político.

O esperto político carioca, mestre na manipulação dos pares, com o dom de saber o que todo político precisa para sobreviver, e exímio jogador, especializado em blefes, admitiu a articulação  do golpe que o fez, a segunda vítima.

Anunciado desde que a prisão provisória em outubro de 2016 foi se transformando em condenações, o livro Tchau, Querida – O diário do Impeachment, criou enorme expectativa.

Trechos ainda inéditos, ocuparam capas de revistas e foram assunto das colunas mais prestigiadas.

O lançamento com data fatídica, o aniversário da abertura do processo que afastou a ciclista fiscal do poder há cinco anos, com primeira edição de 20.000 exemplares esgotada na pré-venda, foi a  prova da ansiedade dos leitores.

A narrativa em ordem cronológica, transformada em peça de defesa no rosário de processos criminais, não conseguiu fazer de quem conduz o fio da estória, herói de romance ambientado no submundo da política.

Não o livrou da imagem que construiu, nem confirmou o título de malvado favorito.

Entre os personagens coadjuvantes, nenhuma descoberta secreta foi revelada.

Que o vice, o principal usufrutuário do processo, articulava o golpe, estava na cara do mordomo.

Que a presidenta deposta caiu por não entender o que se passava em sua volta, até as emas do alvorada já sabiam.

Do arrependimento de Lula na escolha do poste, ninguém nunca duvidou.

Escrito a quatro mãos com a filha Danielle, dois anos depois, deputada federal eleita para o baixo clero do Rio de Janeiro com 75 mil votos, é um  roteiro sem fortes emoções que merece agora, uma releitura.

É um livro que não produz lágrimas, nem risos.

Nada acrescenta ao riquíssimo folclore político estrelado por  gente mais sabida que astuta.

Quem espera lista de espertezas, decepções e deslealdades, em doses únicas para quem calça 40 e triturado, virou farinha no mesmo saco, não se decepciona.

O estilo literário é de reminiscências a serem transcritas em ata taquigrafada para constar nos anais do parlamento.

Acontecimentos conhecidos, registrados em jornais e mídias sociais, com a opinião pública já tendo feito parte do corpo de jurados e o veredicto acatado pelos juízes, se sucedem nas páginas como se em busca de aceitação como normais.

O epílogo só surpreende até que seja lançada uma segunda edição, revista e ampliada.

A revelação que se  estivesse no congresso, seria contra o impeachment de Bolsonaro, caducou.

Com tanto orçamento ultra-secreto, e conhecendo a taba e o valor dos seus índios, há alguma dúvida que Cunha seria a alternativa de Lula à reeleição de Arthur Lira?

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