MITIGANDO A INAÇÃO
As palavras entram em nosso vocabulário e dele não saem mais.
Podem até ficar esquecidas, por desuso ou obsolescência, mas um dia, acordam para lembrar que estão vivas, à disposição.
A pandemia tem apressado a vida útil de termos técnicos que são logo transferidos para o arquivo morto da prosódia.
Durante a curta intervenção do Imperial College na administração estadual, há um ano, os novos cientistas, especialistas em previsões catastróficas, trouxeram para o noticiário, além de números terríveis, palavras de vida midiática efêmera.
A timidez das medidas iniciais para evitar o termo maldito que passou pela cabeça dos dirigentes, mas nunca pelas suas canetas, não será esquecida.
A amarga pílula do lockdown será sempre lembrada para ser prescrita, em todos os agravos da doença.
Em doses de um a cada onda de contaminação que jamais serão aplicadas.
Em seu lugar, uma clementíssima trindade epidemiológica foi apresentada em cenários e planos traçados sem largos horizontes.
Tudo seria passado, como um pesadelo, em mais seis meses. No máximo.
E quem imaginasse um Natal diferente, seria presenteado com uma passagem, só de ida, para Marte.
Diante do monstro que havia chegado de surpresa, apesar da anunciada tour mundial, entre correr e o bicho pegar, as opções precisavam de definição.
1. Inação.
Não fazer nada e esperar toda a população ser atingida, gerando imunidade coletiva.
Até o Dr. Drauzio , o Dr Osmar e o resto do rebanho negam e pedem que esqueçam o que disseram.
2. Mitigação.
Diminuir a propagação e tratar de evitar os contágios, para livrar o sistema de saúde do colapso e prepará-lo para o Armagedom.
O que fizeram ou deixaram de fazer na onda passada, as sanitárias autoridades, eu sei. Todos sabem.
3. Supressão.
Deter todas cadeias de transmissão, tratando de reduzir os casos com a paralisação total e obrigatória.
Sem chances de aplicação em país rachadinho ao meio.
Na prática, o projetado passou muito longe da linha de montagem.
Nada aconteceu como previsto. Nem o desastre, embora menor que o desenhado, mais demorado e não menos devastador.
Não havia mesmo alternativa além da coluna do meio.
Vacina em 8 meses era delírio de malucos que a ciência acadêmica ainda não ousava sonhar.
Ninguém ficaria sem nada fazer e poucos teriam a disciplina dos chineses, com população contada em bilhões e número de óbitos ultrapassado pelo pequeno rio grande sem norte.
Chegou a hora da volta de outros palavrões encontrados nos escaninhos dos parlamentos, sempre bradados quando se deseja chafurdar malfeitos, procurar culpados e bodes malcheirosos.
Comissão Parlamentar de Inquérito.
Na diocese papa-jerimum, de novo, a trinca do que pode acontecer.
E uma previsão pra lá de realista.
Os cardeais em assembleia nem suprimem nada, nem apuram o que foi mitigado.
Inação é pule de dez pra cercar a cabeça deste prêmio.
A eleição de 2022 já avisou.
Salve-se quem puder.