NA FUMAÇA DA MEMÓRIA
Entre os jovens, hoje, raros são os fumantes de tabaco.
As campanhas de combate ao fumo foram vitoriosas. Não se vincula mais o hábito que virava vício, ao prazer e ao sucesso.
Novos valores foram sendo incorporados e a ideia de uma vida glamurosa, dispensa o antigo charme estimulado pelos astros do cinema e da televisão.
Até atletas faziam apologia das maravilhas das novas marcas de cigarro.
Quando for escrito o resumo final da pandemia, o antigo vilão, junto com seu sucessor eletrônico, filho bastardo da tecnologia, o cigarro vai figurar entre os principais fatores de agravamento da mais terrível de todas as doença.
Com a fumaça do último trago, desaparecerão também as lembranças que ainda habitam a cidade que só existe na memória dos meninos setentões.
Para comprar cigarros, pelo menos no bar anexo ao salão de snooker, era preciso caprichar na pronúncia.
Continental e Astória, tudo bem. Até Minister. Eram vendidos sem nenhum problema.
Se algum desavisado, fissurado no vice-campeão de vendas (o Continental era imbatível), pedisse com pronúncia hollywoodiana, corria o risco de ficar no fumo de rolo.
Pior, quando a Souza Cruz lançou seu mais sofisticado produto. Visando um público de maior poder aquisitivo, fez muita propaganda. E barulho.
Mais que um cigarro. Um estilo de vida.
Apesar de todos os cartazes com fotos de homens de smoking, beldades de longos e dos displays cheios da novidade, ali só comprava quem esquecesse o h aspirado.
Como em Portugal, onde o esporte é Andebol e o paraíso tropical, Baamas, naquele salão de bilhar, a classe e a suavidade anunciadas eram vendidas só a quem pronunciasse Ílton.
Aos insistentes a explicação do dono, o Seu Helano:
-Por acaso, meu nome é Relano?
(Esta memória foi lembrada originalmente em 24/06/2019)