4 de maio de 2024
Opinião

Natal tem rima mas falta solução para mobilidade

Roda Viva – Tribuna do Norte – 20/04/22

Natal está assistindo, passivamente, a lenta e gradual destruição do seu sistema de transportes coletivos, que já foi apresentado (até bem pouco tempo), como uma história de sucesso e um patrimônio da cidade que deveria ser preservado.

Este não se trata da adaptação de um modelo que tenha sido testado e implantado em outras cidades, mas de uma experiência que foi sendo desenvolvida ao longo de mais de vinte anos, enquanto o sistema era criado e implantado.

Natal tinha 100 mil habitantes, nos anos ´60, quando a história começou com a chegada de duas dezenas de “lotações” já rodadas (no Rio de Janeiro), muitas delas de propriedade dos seus motoristas que chegaram aqui com muito sonho e pouco capital, e as incipientes empresas existentes (donas da concessão do seu serviço, de péssima qualidade) não demonstravam condições mínimas de continuar.

O poder público chegou junto, com uma equipe de jovens técnicos, comandada pelo engenheiro paraibano Carlos Batinga, que partiu do zero, com a ideia de criar algum tipo de regulamento e a vontade de fazer um estudo técnico do problema e das soluções.

Foi o começo.

MOBILIDADE

A mobilidade urbana ainda não era um grande problema. Os extremos da cidade eram a rua Mário Negócio, nas Quintas, e a “corrente” onde existe atualmente o Midway Mall, e na outra ponta o rio e o mar…

O crescimento da cidade foi chegando e a mobilidade urbana foi se transformando num problema que não parou de crescer,
Até chegar a ser o maior problema de Natal, quando os conjuntos habitacionais (do BNH) puxaram o crescimento da cidade em todas as direções e já existia o arcabouço de um sistema estava sendo montado, oferecendo uma pronta resposta as demandas de mobilidade que iam aparecendo.

O tal sistema foi se estruturando, sem a chegada de nenhuma grande empresa com tradição no transporte urbano de passageiros em canto nenhum ou a importação de um modelo pronto e acabado.

Algumas daquelas “lotações” vindas do Rio de Janeiro haviam se transformado em verdadeiras empresas e umas cinco ou seis delas começaram a atender a demanda ainda modesta.

CURITIBA NA FRENTE

Em Curitiba, o prefeito Jaime Lerner, um urbanista de mão cheia, era um exemplo para todo o Brasil, em matéria de mobilidade urbana. E o exemplo de Natal começava a ser destacado.

Para se proteger, muitos dos empresários de empresas de ônibus. começaram a se transformar em pessoas famosas pela luta desenvolvida, sobretudo no legislativo municipal. Tinha até uma bancada do Seturn na Câmara Municipal…

Alguns deles, direta ou através de testas de ferro, entraram na política partidária. Não bastava oferecer um bom serviço…
As empresas se valorizaram e empresários de fora começaram a chegar trazendo capital financeiro e know how.

O transporte coletivo tornou-se assunto de destaque nos discursos políticos, e os problemas foram se avolumando. Um deles o empobrecimento do passageiro, usuário do sistema.

A diminuição do número de passageiros transportados começou a se acentuar, mas o grande público tinha dificuldade para entender essa equação. A questão da mobilidade cada vez ocupava mais espaço na mídia.

E uma tribo especializada conquistava o seu lugar, além dos ocupantes de cargos municipais e dos empresários; os especialistas, consultores, técnicos em geral forneciam o conteúdo de mídia a ser consumido, sem falar nos políticos.

UM BOM NEGÓCIO

Os negócios de transporte coletivo de Natal, estavam bombando, mas não se conseguia realizar novas concorrência de concessão.

Lá se vão quase trinta anos, e o sistema acrescentou um novo custo: a judicialização. Até a manutenção ou mudança de determinada linha se conseguia por via judicial (e isso continua até hoje).

Agora mesmo com a devolução de algumas linhas, a Justiça está definindo itinerários de ônibus. É o caso do Sindicato dos Permissionários de Transporte Opcional que é candidato a operar linhas devolvidas por terem “custos menores para manter opcionais podem tornar itinerários rentáveis”.

Isso com a entrada do Plano Diretor como órgão máximo de regulação do sistema, cumprindo suas próprias revisões periódicas.

Agora, a discussão foi aberta há seis anos.

Discutiu-se o tipo de transporte ideal; inovações nos veículos, indo ao detalhe da cor das cortinas de lona (azul escuro) dos veículos. Isso tudo sem levar em conta o custo. Se fossem adotadas todas as sugestões apresentadas o preço da passagem teria de dobrar, ou triplicar.

RIMA SEM SOLUÇÃO

E o objetivo final não foi alcançado: – a realização de nova concorrência para a concessão do serviço e sua estruturação.

As últimas tentativas de concorrência deram “desertas”. Ninguém se mostrou interessado nas concessões oferecidas.

Mesmo quando existia um sistema definido e inquestionável os sinais de que havia interesse nas conceções não apareceram. E não apareceu uma só proposta merecedora de crédito para tentar salvá-lo.

Ao contrário do que muitos ainda pensam, a concessão municipal para transporte de passageiros em Natal deixou de ser a última Coca Cola do deserto.

As empresas atuais se mostram cansadas.

E quem apareceu (os alternativos) mostram como grande argumento os seus custos menores, como seja possível melhorar serviço reduzindo custos auditados.

As empresas que resistem, pouco guardam do seu perfil original e os seus donos preservam um comportamento discretíssimo, sobretudo depois do exemplo do lavajatismo em outras praças.

O que fazer?

– Começar de novo?

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