2 de maio de 2024
Opinião

Fake News – a peleja com um desconhecido

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Roda Viva – Cassiano Arruda Câmara – 160621

Nossa “última flor do Lácio”, pelo menos no Brasil, nunca se inibiu de se apossar de palavras de outros idiomas, sobretudo nesses tempos de globalização.

Porém não existe um exemplo tão fulminante como acontece – no tempo presente – desde a eleição norte-americana de 2016, quando conteúdos falsos foram usados contra a candidata Hillary Clinton, a primeira grande vítima das Fake News.

Pontos negativos de Hillary foram compartilhados de forma intensa por eleitores de Donald Trump, que terminou sendo o vitorioso, contrariando todas as previsões.

As Fake News têm um grande poder viral, isto é, espalham-se rapidamente. As informações falsas apelam para o emocional do leitor/espectador, fazendo com que as pessoas consumam o material “noticioso” sem confirmar se é verdade seu conteúdo.

O poder de persuasão das Fake News é maior em populações com menor escolaridade e que depende das redes sociais para obter informações. No entanto, as notícias falsas também podem alcançar pessoas com mais estudo, já que o conteúdo está comumente ligado ao viés político.

A FORÇA DO BOATO

Aqui mesmo, no nosso RN, antes de se falar em Fake News, algumas campanhas eleitorais estruturadas, já tinham um setor de boatos no seu organograma.

Mesmo nos países de língua inglesa, no século passado quando não existia Fake News, era usado o termo “false news”.

As Fakes News sempre estiveram presentes ao longo da história. O que mudou foi a nomenclatura.

O meio utilizado para divulgação e o potencial de persuasão que o material falso adquiriu nos últimos anos. Phillip Knightley, já havia escrito um clássico sobre o assunto “A Primeira Vítima” (tese: em todas as guerras, a primeira vítima é a verdade).

Muito antes do Jornalismo ser prejudicado pelas Fake News, escritores já propagavam falsas informações sobre seus desafetos por meio de comunicados e obras.

Anos mais tarde, a propaganda tornou-se o veículo utilizado para espalhar dados distorcidos para a população, o que ganhou força no século XX.

O Ministério da Propaganda de Joseph Gabbles, no Governo Nazista, deixou um lema, ainda muito repetido: “A mentira repetida muitas vezes, se transforma em verdade”.

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VÍRUS BEM CRIADO

Mesmo depois do Twitter, Facebook e Instagram apagarem as publicações do presidente Jair Bolsonaro por entenderem que os conteúdos causavam “desinformação” e provocavam “danos reais às pessoas”, o presidente segue propagando notícias falsas sobre a pandemia do coronavírus em pronunciamentos, nas ruas e nas redes.  – Conclusão do EDReS (Grupo de Estudos da Desinformação em Redes Sociais), da Universidade de Campinas.

Um dos pontos de pauta do noticiário político do Brasil é o “gabinete do ódio”.

Segundo a deputada Joice Hasselmann, o chamado “gabinete do ódio” é integrado ainda pelo assessor especial da Presidência da República Filipe Martins, que é próximo ao  vereador Carlos Bolsonaro , filho “03” do presidente.

O grupo, na versão da ex-aliada do Planalto, é um dos mais ativos propagadores de notícias falsas e difamações. E o próprio Presidente da República não se cansa de lançar assuntos polêmicos a serem multiplicados pelos seus robôs.

FAKE DO ESTADO

No nosso Rio Grande do Norte, fake News tornou-se assunto de Estado com direito, até, a uma campanha publicitária, dando sequência a uma entrevista da governadora Fátima Bezerra que reagiu com indignação às acusações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro a respeito da utilização pelo executivo estadual dos recursos que foram enviados para combater a pandemia de Covid-19 e que, segundo ele, teriam sido desviados para pagamento de servidores públicos.

A Governadora disse que o Presidente mentia.

Taí um assunto que rendeu; e ainda vai render muito.

Fátima reagiu e teve apoio dos Governadores do Nordeste respaldando suas palavras:

“Passei o final de semana como sempre trabalhando, dedicada a salvar vidas da nossa população, e me deparo com ataques do presidente da República ao Governo do RN sem qualquer lastro fático ou que se assemelhe à verdade”.

Depois do confronto inicial, o Ministro das Comunicações, Fábio Faria, assumiu o lugar do Presidente na refrega, e continua repetindo os ataques à Governadora do RN e tem conseguido manter o clima de disputa em diferentes planos.

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FORÇA DO FAKE

A “Fake News” entrou no universo vocabular do brasileiro, em 2018 e logo ganhou status de inimigo público número um, depois da campanha presidencial, quando as tradicionais forças políticas não se prepararam para enfrentá-la, usá-la, ou mesmo conviver com ela.

O bolsonarismo saiu na frente, e os outros vieram atrás do prejuízo, sem consciência do que tinham o que fazer. E atiraram em todas as direções, do Judiciário ao Legislativo (criação de uma CPI).

Criou-se uma fantasia de que o Judiciário poderia domar e enquadrar as Fake News.

E a resposta veio de lá mesmo:

“Isso é uma ilusão. O Judiciário não tem condições de assumir esse protagonismo, pois seus próprios ritos são incompatíveis com que as notícias que circulam na Internet”, afirmou o ministro Luiz Roberto Barroso, do STF.

Depois que a CPI não decolou, imaginou-se até um decreto presidencial capaz de ter a fórmula mágica de conter o monstro…

Mas, o grande oponente da Fake News é o bom e velho jornalismo.

O jornalismo profissional que tem conseguido oferecer respostas na sua velocidade e tem na própria credibilidade sua arma mais eficaz.

Um poder desarmado mas que é muito forte na democracia.

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