28 de abril de 2024
Fake News

NEM TUDO É VERDADE

A verdade saindo do poço (1896) – Jean-Léon Gérôme  – Museu Anne-de-Beaujeu, Moulins, França.


As fakenews desembarcaram em solo pátrio, no meio ao medo e incertezas da pandemia, para desmentir que muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil eram.

A quarentena foi o  tempo certo para definir como as mentiras mais escandalosas e inaceitáveis, as que versavam sobre Ciência e sua filha mais bastarda, a Medicina, aquela jovem sempre rebelde que duvida de tudo e considera que toda verdade é transitória.

No passado, em programas de variedades e auditórios, eram realizados concursos e as maiores e mais cabeludas inverdades levavam os  prêmios dos anunciantes.

Antes de criminalizada, contar uma, outra ou um cento, eram atividades risíveis, quase artísticas.

Um dom de berço, uma  carga genética ou um forte  componente familiar.

Atributos passados de pais para filhos.

Exceção dos pescadores e conquistadores baratos.

Toda cidade tinha orgulho dos seus astros, reconhecidos por onde passavam.

Pequenas celebridades.

Sem maiores traumas, ninguém era obrigado a acreditar no que ouvia e muito menos quando vinha de um notório mitômano.

Chico Anísio fez a  síntese de todos estes personagens paroquiais, incorporados em Seu Pantaleão.

Com a  indispensável confirmação da patroa.

Se o  país tivesse memória menos curta, a legislação que versa sobre esta prática nas redes sociais, teria o nome de Lei de Terta.

É mentira?

Até antes dos relacionamentos cibernéticos, eram socialmente aceitáveis.

Tinham cor.

Na expressão racista subliminar, as consideradas necessárias aos bons relacionamentos, as  brancas.

Empregos e  casamentos penhoradamente agradecem.

Quem nunca chegou atrasado, ou tarde, por conta de um pneu furado ou um serãozinho extra que nunca existiram?

O mundo mutante da política brasileira sofreu um grande e inesperado abalo, por obra e ventura de uma singela tradução.

Palavra foneticamente forte e agradável aos ouvidos,  logo incorporada ao linguajar popular.

E foi longe, até às barras dos tribunais.

Condenada sem confissão nem remissão dos pecados.

Na linguagem dos rotos e esfarrapados, não é de hoje que se prometem universos e fundos.

Saúde e educação.

Prioridades. 

Segurança, transporte, saneamento, emprego e renda.

Seus arautos mostram as mãos lavadas, pouco antes de subir nos palanques.

Mesmo se o líquido e certo prometido para depois da posse, nunca venha a ser entregue, campanha eleitoral é  tempo de renovar a confiança e acreditar de novo.

Nas mentiras de sempre.

Coisas da política.

Das farinhas.

Dos mesmos sacos.

Dos sapatos.

Dos mesmos números.

Dos mesmos.

De sempre.

Quem pariu as fakenews, foram os políticos.

Agora, eles que as embalem.

Mercador de tapete no Cairo (1887) – Jean-Léon Gérôme – Instituto de Artes de Minneapolis, EUA

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