NO CALOR DAS COMPRAS DE NATAL
Que os netos são a sobremesa do banquete da vida, ninguém discorda.
A feliz frase, tantas vezes repetida, tem vários pais. E mães.
Ao usá-la quando foi avô, Cortez Pereira, orador inesquecível e administrador de rara visão, traduziu em palavras, o sentimento, como se pela primeira vez, tivesse sido dita.
Tem muito mais gente driblando todas as dietas para participar da última parte do festim, antes que chegue a hora do café amargo.
Momentos incompatíveis com os gráficos e tabelas de crescimento infantil.
Na conversa descontraída, o avô foi repreendido por ter falado um palavrão.
O argumento que o pimpolho, de seis anos, já conhecia o significado do nome feio, não convenceu.
–Eu sei o que é, mas não digo na frente do meu avô.
Na alta estação de consumo, na Black Friday,os rebentos também quiseram ir às compras.
O aviso matriarcal que a ida ao shopping era tão somente para passeio e lanche, foi logo esquecido quando surgiu a vitrine da loja de brinquedos.
As negativas da mãe de fazer qualquer compra sob o argumento que o pirralho já tinha muito com que brincar, foi contestado.
Um amiguinho tinha tantos brinquedos quanto ele e sua mãe sempre que vinha à catedral do consumismo, comprava mais um.
Ao lembrá-lo que não era a mãe do coleguinha, ouviu a lamúria que não esperava.
–Azar o meu!
Na reta final para as compras dos presentes de Natal, toda atenção é pouca para não causar decepções.
Informação, mesmo as declaradas em terceiras intenções, não devem ser desprezadas.
Se o jovem aprendiz de metereologista, como só os crescidos costumam fazer, reclama do calor nunca sentido antes, pode ser apenas pretexto para dispensar presentes de pijamas por mais agasalhadores e fofinhos, a avó possa imaginar.
–Está tão quente, que agora só durmo de cueca.
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(Com modificações, este texto foi publicado em 17/12/2021)