6 de maio de 2024
Opinião

No rumo ao desconhecido é preciso definir o caminho da sobrevivência

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 13/05/20

Hoje chegamos aos 77 dias desde a confirmação do primeiro caso de morte por coronavírus no Brasil. Mais de onze mil mortes depois (sendo 93 delas, até ontem, no nosso Rio Grande do Norte), revela-se o maior diferencial dessa catástrofe sobre todas as outras: não são números a serem chorados; são nomes, são pessoas do relacionamento de cada um de nós. Pessoas de todas as classes sociais.

Nessa altura não existe um só caso que não tenha uma pessoa do seu relacionamento familiar, ou profissional, um conhecido que tenha sucumbido diante de um vírus ainda não controlado pela ciência.

Ao longo desses 77 dias, houve de tudo. Começando com um desconhecido Ministro da Saúde fazendo o possível para advertir a população do tamanho do problema que teria pela frente no curto prazo. A coerência do discurso, a pertinência das propostas, revelaram o nome de um servidor o público que parecia condenado ao anonimato: Henrique Vandetta, um médico, ex-deputado federal do Matos Grosso do Sul, que poucos tinham ouvido falar. Ele conseguiu comunicar à população que doença era essa e quais os sacrifícios que seriam cobrados da população.

NÚMEROS DA MORTE

A primeira morte do coronavirus aconteceu no Rio Grande do Norte, onze dias depois, há 63 dias portanto. Uma mulher, que estava vindo de uma área altamente infectada: Itália, França e Áustria chegou aqui infectada. Nesse primeiro caso, a certeza de que a contaminação da vítima não havia acontecido aqui, mas havia sido trazida do exterior.

Cm isso, as autoridades estaduais que vinham tendo uma presença discreta, resolveram adotar o modelo Mandetta, convocando a imprensa, e com transmissão ao vivo pela televisão, divulgando o placar do dia.

Nos meios de comunicação profissionais, a editoria mais movimentada passou a ser a do coronavírus cheia de informações: como dificultar a propagação da endemia (lavar as mãos com água e sabão, ou álcool-gel) e ficar atento aos sintomas (febre, coriza, tosse, falta de ar….). E o Brasil começou a ouvir previsões baseadas em cálculos matemáticos e curvas de tendências.

Nesse particular, as autoridades estaduais começaram mal: – A previsão de 11.358 mortos por coronavírus até o dia 15 de Maio – depois de amanhã. Número dado por matemáticos de Natal e Mossoró que estudaram o assunto. O disparate foi tal que esqueceram até de apresentar desculpas ou justificativas…

PERIGO DE FAZER BEM FEITO

Faltou a Loteria Federal ou o Jogo do Bicho lançarem uma loteca da morte. Enquanto Mandetta e sua equipe, usando jalecos azul do SUS, na televisão, defendia os pontos de vista recomendados pela Organização Mundial de Saúde, começando pela continuação rigorosa do isolamento social, ofereciam o resultado do dia mostrando o avanço da endemia em números.

O Ministro conseguiu a aprovação de mais de 70% da população. E por incrível que pareça, em vez de se fortalecer no Governo, Manetta se enfraqueceu com o Presidente da República que resolveu bater de frente com ele.

Jair Bolsonaro havia descoberto a cloroquina, um remédio contra febre amarela para ser usado imediatamente, além de defender o fim da política de isolamento social para permitir e abertura do comércio e das atividades produtivas, com a legenda “O Brasil não pode parar”; semelhante ao que havia sido feito na Itália com consequências desastrosas.

Na medida que se aproximava do pico da infestação da doença, çaiu o Ministro e sua equipe; Entrou um outro time quando havia sido declarada uma guerra intestina entre o Governo Federal, Estados e Municípios por conta do isolamento social.

PERTO DO PICO

A epidemia, trazida para o Brasil pelas classes alta e média, se aproxima do pico, quando cresce um outro problema: – a necessidade a flexibilizar o isolamento social.

As empresas já não suportam o preço que está sendo pago por todos do segmento, micro, pequenas e gigantes do setor sem faturar, e muitas delas não conseguiram pagar seus custos. Com um olhar no presente e no futuro se buscava uma saída. Que não é o autoritarismo para impor punições para que decretos sejam cumpridos e produção de espetáculos midáticos.

O caminho é outro, o caminho do diálogo praticado entre governantes e governados. É preciso pensar também no empresário e na empresa. Saber que quando essa tormenta passar, eles precisam estar produzindo para pagar um tipo de conta que nunca havia sido apresentada a .ninguém.

Estamos diante daquela equação de preparar omelete sem quebrar os ovos. Ou liberar os meios de produção sem facilitar a retomada da pandemia.

RUMO AO DESCONHECIDO

Além disso existe um problema adicional: ninguém nunca viveu uma situação como esta. As opiniões, projeções, definições são todas carentes de comprovada experiência anterior. Assim, na elaboração desse artigo, se era para ouvir conselhos, me defini pelos palpites do homem mais rico do Brasil (segundo a revista Forbes) Jorge Paulo Lemann, 80 anos,

fundador do grupo 3G (Brhama, Antartica, lojas Americanas, Budwaiser, Burguer King e muitas outras):
“É importante ficar calmo, ajustar-se as nuanças e inovar. É importante seguir adiante. Esta crise, que deve ser maior do que muita gente pensa, vai passar”.

Como Lemann, a maioria das pessoas concordam que a Panemia vai passar. Daí a importância de colocar a sobrevivência em primeiro lugar. É o que estou tentando fazer há cerca de 70 dias sem sair de casa (faço parte do chamado grupo de risco) e adotei o “home office” para trabalhar.

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